sábado, 11 de fevereiro de 2012

DUST IN THE WIND

                E era ele ali, sozinho, como sempre, em meio à noite fria. A mesma capa surrada, a mesma bota furada. Os cabelos ralos e cinza, a pele sulcada pelo tempo, o corpo já curvado pelos tapinhas nas costas da vida. A vida. A de sempre, criança traquina a lhe sorrir da esquina. Mais próxima. Vento gélido. No horizonte, distante. O sol surgia pálido em meio ao negrume. Frágil esperança de um dia melhor. Perdera a conta de quantas vezes dera bom dia ao sol. Ali, sob aquela mesma arvore. Velho sol, sempre tentando aquecer seu corpo. Num passe de mágica a noite tinha-se ido. Cocoricós ecoando distantes. Uma folha descendo em espiral. Do topo ao chão. Mas ainda era. Era? Era ele o que?  Quem era? Surgiram as velhas notas. Mais. Surgiu o mundo de sempre. Desfocado. Gritos distantes. Corpos correndo.  Sem rugas, cabelos curtos. Era mais um na multidão de rostos. O sol ia ganhando altura, cada vez mais claro e quente. Já não era. Sinestesia de formas e gostos. Tragou o sorriso no vento. Sentiu o gosto de ganhar os ares pela primeira vez. De repente chão. Mato. Frio. Escuro. Pule, corra, marche. Mesmo, quem? Pedacinhos de algodão naqueles dentinhos brancos. Um sanduíche, sangue quente correndo pelos tubos. Vapor, água muito quente. Gritos eufóricos, alegria. Sabão e espuma. Suor esvaindo pelo ralo. Azul escuro contra o céu claro. Pingos pesados de chuva. Culpa, despencando. Ao cair da noite, a musica, a dança. Consumou-se. Corra agora. Silencio. Papel em branco. Ideias fervilhando. Tique-taque. O sol já estava a pino. Outra folha espiralando lenta. Mande notícias. Reverberações. O novo. Pulsante. Alvazulado. Choque. Não era mais ele ali. Um nome, borrado, no muro. Abriu os olhos. Sol. Brilho dourado. Olhar altivo. Sim. Não. Sozinho, ali, era? O brilho no olhar.  Amanhã. Hoje. Ontem. Era, sim, estava ele ali. Finalmente, voou. Ali, apenas poeira, brilho no olhar. Voando.  No vento...