quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Diário [ou página dos desabafos]

Não dá mais, hoje eu preciso desabafar de alguma forma. Tudo que está acontecendo, de certa forma, supera meu limite de tolerância. Há muito já rompi a barreira de dar um bom dia quando, para mim, o dia não tinha nada de bom. E, para piorar ainda, o dia amanheceu com o céu cinza, mais cinza que os pensamentos doentios que circulam em minha mente.
Estou no meio de muitas faces que não suporto sequer olhar. Circulado por aqueles que, em silencio, continuam a gritar que ainda me odeiam [talvez nunca gritassem, maldita mania de ver tudo do meu prisma]. Encarando olhos que escondem sombras, não há mais brilho no olhar. Sequer posso contar com os que amava, e que achei que correspondiam. Pois, de fato, aproximaram-se de um, em detrimento de outrem.
Não consigo entender. Pois até quatro semanas atrás havia uma negação de proximidade, então lá estava eu e eles, enquanto o outro corria de todos. E, agora, quando o mentor partiu, quando os outros partiram, lá estão eles. E, incrivelmente, parece que eu que sempre fugi de todos. Todo o tempo que sempre estive perto parece ignorado.
E, claro. Há sobretudo a mácula derivada da falta de controle alheio. Pois, como já disse aqui, as pessoas, levadas sabe-se lá pelo que [pelo desejo mais profundo, claro], movem-se em busca do que querem momentaneamente e depois esquecem-se que elas que iniciaram tudo. Mas nem posso maldizer mais aqueles que não sabem lidar com suas memórias. As minhas apenas jazem calmas em mim, pena que para todos não é assim.
Ademais há tudo por aqui. Os mesmos problemas de sempre, mas multiplicados pelo gosto da liberdade sentida longe. A liberdade que, de tão próxima, corre de mim e esconde-se no horizonte distante. Quanto menos falta para o fim mais longe fica a utopia. De fato não parece que daqui nove dias os grilhões que me prendem aqui serão quebrados.
Para sempre livre. Mas, livre para o quê? Para onde é o próximo vôo? O destino reserva-me apenas segredos, pois não consigo visualizar nada. Onde havia uma segurança hoje há vazio. O mesmo vazio de sempre. Aquele buraco negro sugando tudo. Aquela explosão que me tira tudo. [mas, eu prometo, vou sobreviver]
PS. O título já indicava que seria um texto pessoal, embora haja sim destinatários. Então me desculpem, mas hoje não houve ficção. 

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Memórias

                Eu deveria ter adivinhado que isto aconteceria: talvez as pessoas simplesmente não saibam separar as emoções carnais da razão. É trágico isso! Às vezes as coisas não passam de simples desejo fluindo, e elas não se tornam pior por isso. Pelo contrário, é bom dar vazão aos seus desejos íntimos. E, claro, sem medo de arrepender-se depois.
                Acontece! O pior nem são os fatos. São as conseqüências dos atos falhos. Todos têm a maldita mania de não saber lidar com seus erros. Curioso, pois exatamente quando juramos que vamos esquecer algo ficamos evitando lembrar. E, de tanto resistir, acabamos por lembrar. É como aquela história de que o oposto do amor não é o ódio...
                Curioso, claro. De fato, nessas situações, você pode cavar seu buraco seguro. Um abrigo antiaéreo, eu diria. Mas não são todos que conseguem. Então tudo se resume naquele segredo, o que você tenta de todas as formas apagar de sua mente. O que se tornou aquela memória, fantasma gritando em seu ouvido.
                Interessante é como os desejos podem enganar a todos: quem diria que o prazer de ontem seria o desgosto de hoje. Seres malignos os desejos, efêmeros, bipolares. Bastante cuidado ao entregar-se a eles. Seus desejos sabem mais sobre você que você mesmo, acredite.
                O remédio talvez seja deixar as memórias descansarem calmamente em sua mente. Todos erram. Não transforme seus erros em muros, pois, trancando-se dentro deles, você pode ter sérias dificuldades para demoli-los depois.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

I [wish] hate you

                E mais uma vez aqui estou. Escrevendo sobre os sentimentos que não consigo controlar. Maldita mania bipolar que me tira das nuvens e me taca no inferno em questão de segundos. Maldita falta de controle que deixa os sentimentos e atitudes externas influenciar tanto meu humor.
                E mais uma vez aqui estou. Não sei se com mais tristeza que com raiva. Porque socar espelhos pode até ser uma terapia. Agredir a sua imagem, sua maldita imagem que tanto te assombra. Mas não. Socar espelhos e chutar portas só serve para um escape momentâneo da dor. Assim como sexo. Droga!
                E mais uma vez aqui estou. E você continua nem percebendo que todas as minhas mudanças bruscas de humor são por sua causa. Não é amor. É desejo de indiferença, sei lá. De não preocupar-me com sua vida. Mas você insiste em responder as perguntas que não faço. Não vê que minha boca calada e minha falta de conversa pedem somente seu silencio?
                E mais uma vez aqui estou. Com uma vitória na mão e uma arma na outra. Com o desejo de fugir, correr para bem longe. Esse desejo escapista que me persegue. Esses olhos impuros no reflexo quebrado. Essa água que tem gosto de fel, que mata a sede e traz a insaciedade.
                E mais uma vez aqui estou. Repetindo frases no início de parágrafos. Desabafando em uma folha em branco, ouvindo desesperadamente a mesma música. Apenas uma coisa diferente desta vez: comprei um passaporte para o mundo dos sonhos invés de morte aos poucos. Decidi não morrer jovem, mas, por favor, feche a porta ao sair.

sábado, 5 de novembro de 2011

Despedida

                   Três anos! É complicado sair de seu casulo, quebrar o muro e encarar a vida real. Seria mentira dizer que tudo passou muito rápido. Não, todos os momentos que amaldiçoei a mim mesmo por estar aqui iriam contradizer-me. Eles demoraram a passar. Isso é um fato!
                Apenas é contraditório. Às vezes eu desejo não ter vindo, não ter passado por nada disso. Caraca! Olho ao meu redor e vejo somente efemeridade. Já deu! Não sei se aguentaria mais três anos… Tenho apenas que agradecer pelos ótimos momentos! E, por mais estranho que pareça, pelos péssimos momentos.
                Eu cresci. É isso! Não serão as pílulas concentradas de felicidade que resolverão minha vida. Droga! Eu queria que fosse. Seria fácil engolí-las e ligar o foda-se para todo o resto. Mas não. As coisas só tendem a piorar a partir de agora.
                Eu odeio o falso otimismo. Eu vou sentir falta de toda essa porra. Odiar tudo isso acabou tornando-se parte de mim. E eu vou sentir mais falta ainda de tudo que vivi aqui. Alias, sentirei falta de tudo que vivi nos últimos cinco meses.
                Pois a vida, ah, essa me saiu do controle. Foram tantas faces, tantos rostos, tantos nomes. E você não estava la. Então eu percebi que aquela desculpa que eu lhe dei era mentira. E, quanto mais eu tentava provar pra mim mesmo que eu queria isso, eu vejo que não.
                Eu desejo a segurança dos seus beijos de novo. Mas, já vi, eles não me pertencem mais. Então caio na real: todos os cigarros que fumei aqui só serviram para me matar mais rápido. A falsa felicidade que eles me trouxeram não passava disso: falsa felicidade!
                Sentirei falta de todos. Sentirei falta de tudo. E terei medo. Medo de abandonar a segurança do lugar que, querendo ou não, pude chamar de lar. Medo de abandonar os amigos, que, por mais errado que parecesse, eu amei.
                É... O futuro está ae. Batendo na minha porta! Não posso mais negar a abri-la. Vou ter que cumprimentar e viver com esse monstro agora. E vou ter que perceber que todos os beijos dados aqui foram somente isso: beijos! Por que beijos, “beijos não são promessas!”

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

CACHECOL

                   Era apenas uma noite de sábado, e aqueles cinco jovens estavam alucinados indo para mais uma festa. O carro corria rápido pelas estradas, a vodca corria rápida pelas veias. Musica alta e estalos dos beijos trocados, o vidro do carro embaçado. Ahh! A encantadora beleza e coragem da juventude! Uma época sem medos, na qual a coragem é o combustível das historias que ficarão para toda a eternidade.
                Chegaram. Foram e aconteceram no salão. Todos lindos, os três rapazes e as duas moças. Queriam dançar com eles, seus cabelos eram imitados, suas roupas estilizadas, seus tênis brilhantes e saltos altos. Sempre era assim, onde quer que fossem. Só que hoje foi diferente. Sim, o mais temeroso deles decidiu-se por ter uma noite cheia e ficar com uma pessoa.
                E de repente a viu. O coração acelerou. Tudo travou ao seu redor. Ficou tímido, nunca sentira isso antes. Tentou caminhar até perto dela, não pode. Então ficou olhando-a: como um imã seus olhos não perdiam o foco dela. Até que uma amiga a apontou e apontou para ele, sorriu, e, tremulo, foi até a amiga. Um breve dialogo, e um sim. Ele então se dirigiu a moça.
                - Qual o seu no... – e um beijo interrompe a pergunta. Um choque percorre todo seu corpo. E então vem a certeza: é ela!
                Corresponde, e, por vários minutos aqueles dois corpos fundem-se em um beijo como se fossem um. Então pararam, e finalmente ela disse seu nome: Laura. Eles então começam a conversar, falam sobre tudo, dialogam sobre nada. Dançaram, andaram de mãos dadas. E ele descobriu seu passado: já fora casada por um ano, abandonara a faculdade para viver aquele breve amor. Mas os ciúmes corroeram a relação e ela teve fim.
                Ela passava por uma fase ruim. Fazia três meses que estava sozinha. Ele a consolou sob as estrelas, a abraçando a aquecendo-a do frio que fazia fora do salão. Mas não tardou e o dia começou a raiar... ela morava em outra cidade, distante da sua. Veio um pequeno vazio, uma falta. A ultima musica da festa tocou e todas as luzes se acenderam. Caminharam até o estacionamento juntos.
                Despedida. Não sabia o porquê, mas sentiu que um pedaço dele estava indo embora com aquela moça. Abraçou a forte e prometeram se rever. Então surge a ideia em sua cabeça, e ele toma o cachecol em seu pescoço. E, sorrindo, diz:
                - Se quiser de volta terá que voltar para buscar.
                - Eu irei – ela promete.
                E, com um sorriso, trocam o último beijo. E o telefone. Ele vai para o carro, aperta o cachecol firme. Seu amigos chegam. Passam a viagem toda comentando sobre as pegações [a loira no banheiro, a ruiva na escada, o negro atrás do bar...]. Seu silencio nem os perturba, de tão empolgados não o percebem. Uma hora de viagem em silencio e é deixado em casa. Lentamente caminha para a cama, sem antes colocar o cachecol sobre a escrivaninha.
                No dia seguinte a empregada o vê, acha estranho e coloca no maleiro de seu armário, dentre as várias roupas esportivas. Ele acorda com o sol se pondo, come algo rápido e vai para o bar. No caminho sente falta de uma coisa, mas não conseguia se lembrar do quê. Lá chegando, todos o esperavam com o chopp geladinho [a Lavínia, além do chopp, o esperava com a cinta liga nova]. Foram para a dark-room, embora o cérebro lhe dava descargas de consciência por levar a primeira mulher que ficava para um local daqueles.
                Lavínia começou a morder suavemente seus lábios, descendo as unhas pelas suas costas fortes. Já a mão dele deslizava rápido pelas costas dela, chegando logo às nádegas e as apertando com força. Ele retira a saia dela, sua lingerie e desce sua língua por aquela fenda úmida e quente. Sente o delicioso gosto e explora cada canto. Lávinia solta alguns gemidos de êxtase. Ele continua, alternando movimentos rápidos e lentos... Até que, ouvindo um pedido, meio gemido, em seus ouvidos, ele coloca seu membro de uma vez no meio daquelas coxas. Foi uma imensa descoberta do prazer!
                Acorda no dia seguinte em seu quarto... alguns hematomas o assustam. Mas acha-os normais. Coloca uma camiseta e todos ficam escondidos. Desce para o café, e não encontra ninguém. Mas isso não o espanta, ele quase nunca encontrava ninguém naquela casa. Alias, as vezes via um casal de estranhos, que sua mente insistia em lhe dizer que eram velhos conhecidos. E sempre aparecia uma mulata forte com o café, e a atender-lhe todas as vontades. Não conseguia entender por que sentia afeto por aquelas pessoas, sempre recém-conhecidas.
                Passam-se os meses, vêem outras Lavinias, Marias, Paulas, festas, arranhões, encontros com o casal de estranhos e a mulata. Até que um dia olha-se no espelho ao fazer a barba: como estava forte, o corpo esculpido, cada músculo ressaltando a perfeição que Deus lhe presenteara. Sabia que aquilo era um presente, pois nunca havia ido a academia. Embora todo dia promete a si mesmo que vai começar a malhar, e até vai na academia, sempre espantando-se por sua tamanha força e habilidade com os aparelhos, como se aquilo fosse a coisa mais natural para ele. A única coisa que estragava sua aparência era aquela cicatriz...
                Só que algo estranho chamou sua atenção: um cachecol, pendurado no canto do espelho. Não sabia de onde aquilo viera, mas a mera presença disparou seu coração. Ele o pegou e sentiu seu perfume. Então finalmente lembrou-se... Olhou para fora e percebeu os primeiros flocos de neve. Olhou para o cachecol e notou um nome: Laura. Silencio. Ficou estupefado. Finalmente todas as lembranças vieram-lhe a mente.
                Desceu para o café e cumprimentou aquele casal de estranhos. Na verdade os abraçou fortemente, eram seus pais. Os três sorriram um para o outro, e a mãe gentilmente acariciou sua cicatriz, e, dirigindo-se ao marido:
                - Eu sempre lhe disse para nunca deixar de acreditar.
                Após o café ele colocou o casaco, pegou o celular e procurou na lista de contatos, lá estava: Laura. Colocou firme o cachecol em volta do pescoço. Abriu a porta e pisou firme na neve recém derretida. Finalmente poderia ir atrás de um grande amor.

sábado, 15 de outubro de 2011

My abyss

Living in a dark abyss
I don’t have way out
I look around me and only see darkness
I see the sun so far
But don’t get to reach it

Your smile hurts me now
Your happy face puts me in the wall
And shows me that I’m not like this
I try to run away being who I’m not
But this hurts me and tears my soul

Don’t run behind me crying
No, don’t want your tears
I wanted your love and you denying
Don’t try to draw me of this abyss
Cause it was you who threw me here

You pull the best of me
Left me seeing my end
But I don’t see my death
The abyss that I’m is worse than dying

Don’t run behind me crying
No, don’t want your tears
I wanted your love and you denying
Don’t try to draw me of this abyss
Cause it was you who threw me here

Don’t run behind me crying
No, don’t want your tears
I wanted your love and you denying
Don’t try to draw me of this abyss
Cause it was you who threw me here

I’ve been happy one day
But you wake up my bad side
The solitude is my most faithful mate
It makes me bad, but you make me more.

PS. Texto de 2007, retirado do fundo do baú (e da época que tinha uma banda xD)
PPS. Não sou bom pra escrever em inglês, mas a gente tenta.


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Anjo

Um rosto de anjo surgiu para mim
Capaz de aquecer todo este frio
Sua presença era real
Constante, viva, confortável

Um rosto de anjo surgiu para mim
Capaz de por em chamas toda minha vida
Um sorriso, feixe gigante de luz
De volta ao passado, sentimentos à tona

 Tão perto para sentir a brisa de sua respiração
Contemplar cada centímetro de seu rosto
Sentir de perto a perfeição

Tão longe quanto o sol e a lua
As mãos, que desejavam um abraço morno,
Apenas jaziam tremendo, debaixo do travesseiro...

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Pedra

                Existe um cubo perfeito, bruto e pesado. Ele é tão velho quanto cada um dos que pensam sob a Terra, e tão único e individual como a mente dos que o possuem. Carregá-lo é difícil, às vezes dói, como uma vã tentativa de segurar o peso do planeta nas mãos; às vezes é leve como pluma flutuando no vento matinal. Depende da sorte de cada um!
                Na verdade todos estão destinados a terem seu próprio cubo de pedra. Como o relevo em um terreno selvagem, os cubos vão perdendo sua forma sólida e fria. Uma chuva, uma paixão, uma decepção, uma alegria, um furacão. Tudo reage com aquela pedra e vai moldando-a. No fim, após vários anos e experiências, o que se tem é algo simétrico, quase vivo de tão perfeitamente esculpido.
                Então aparece a magia, e a mágica desse cubo é perfeita: de pedra ele, aos poucos, cria vida. Átomo por átomo, molécula por molécula vão virando miofibrinas, e essas células.  Então surge uma força animada que as faz bater em sincronia, como uma orquestra regida pelo sopro de vida mais sutil e ao mesmo tempo tão devastador como um tsunami.
                E surgem canais, por dentro deles vai passando um líquido espesso, vermelho vivo e potente. Ar e vida se camuflam por ali, precisos e combinados tão sutilmente que fazem inveja em qualquer engenho criado pelos seres humanos.
                Deu-se a vida àqueles que possuem esse cubo batendo em seus peitos! Mas cuidado, a mágica é suave, qualquer decepção pode fazê-lo tomar sua forma original, de volta a pedra, de volta ao frio. Para sempre condenados a eterna sobrevida dos amantes não amados.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Pérolas

                 As pessoas deviam dar menos valor aos colares de pérola. Para começar toda pérola é fruto da dor e da morte. Uma ostra, para produzir pérolas, precisa que um ser estranho e incomodo entre em seu corpo, como um grão de areia ou um parasita. Pérola feita, o homem simplesmente mata a ostra e pega a preciosa gema. E não me venha com a velha auto-ajuda que a pérola é uma ferida curada e blá blá blá.
                Pois bem, esferas em mãos elas são juntas, perfuradas, enfileiradas e pronto:  está feito o colar tão desejado. Então os homens os colocam em vitrines, expõe-os, julga qual ficará melhor pela cor, diâmetro, comprimento... E depois os trocam por um pouco de papel, não um papel qualquer, mas sim o alvo da numismática.
                Ninguém pensa para pensar nisso, sabe, às vezes sou só um idiota falando besteiras mesmo. Mas, repare: todas as pérolas foram colocadas ali por serem semelhantes, não se aceita nenhuma discrepância entre as gemas do mesmo cordão. E, claro, ninguém nunca pensou se todas querem mesmo ficar tão intimamente juntas...
                É fácil, uma mera substancia orgânica agrupada como bem agrada aos olhos dos mais afortunados por poderem expô-la. No final o resultado fica ótimo: brilho, coesão, beleza e status. E quanto mais se tem e se está junto mais popular e felizardo se é.

                - Ei Nemo!
                - Pois não...
                - Não seja tão crítico, as pessoas ainda precisam de amizade e interação social.  
               - Mas eu só estava falando sobre as pérolas... 

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

INDAGAÇÕES

Pra que tanta sociedade?
Se destes sorrisos só brota veneno
Em sua fonte de angústias já me afoguei
Provei seu bolo, doce ilusão

Pra que tanto circo?
Quando nem só pão é necessário
Quero um pouco mais, mais fundo
Continue cavando a cova

Pra que tanto barulho?
O que todos precisam é o silencio
Pensar, uma vez que seja

Pra que tanta prisão?
Meu grito é de liberdade
Não quero carne, quero alma.

domingo, 4 de setembro de 2011

Caduco


Prefiro ser o poeta de um mundo caduco
Pois o presente não passa de desilusões
E não cantarei o mundo presente
Apenas me lamentarei pelos meus companheiros
Estão frágeis, tetos de vidro expostos a chuvas de pedras
Decisões impensadas, a fuga da realidade
Mas o que é real? O beijo ou o copo de vodca?
O corpo quente ou o vento frio?
O amor já não justifica a lascívia
Apenas mais dois amantes sob a luz das estrelas
Tanto esperar, tanto esconder
Quando se tinha uma chance, não houve
E toda a adrenalina de um dia transformada em pranto
Apenais mais um chorando sob a luz das estrelas
Volte para casa, pequeno sonhador
Um carro tomado por sorrisos e juras de amor
Tão condenadas, mas real, como o ar morno do aquecedor
Duas estranhas, uma noite se contorcendo
Pela manhã, outras cápsulas azuis, 75 mg de alegria
Ou o fim, quando o vinho vira vinagre
Desculpe-me Drummond, o presente é ínfimo!

terça-feira, 9 de agosto de 2011

[seu] Silêncio

Isso é o máximo que sairá de sua boca?
Algumas risadas, alguns gritos?
Pequenas alegrias, tristes expectativas...
Perto demais, mais longe do que deveria!

Tantos lugares, escolheu este
Tantas almas, escolhi esta
Tanta liberdade, me prendi
Tantas grades, poucos enjaulados

Foi tentando acertar que sonhei
Foi tentando achar que perdi
Foi tentando amar que matei
Foi tentando viver que morri

Dê-me algo por que acreditar
Faça ressuscitar em mim o garoto morto
As rosas já perderam o [seu] perfume
O [seu] silêncio ainda me fere...

sábado, 6 de agosto de 2011

Pueridades

Existe um país onde os meninos recusam-se a crescer
Talvez por tão cedo serem irmanados
Ou por perderem o conforto do lar

Sempre há um número limitado de habitantes
E o visto de entrega é dificilmente adquirido
Somente os poucos selecionados conseguem

Eles não tem uma vida tranquila
Mas dizem amar o que fazem
Sua cor preferida é o azul

Nesse país existe um certo povo que adora os deuses
E até tentaram homenagear um deles
Mas o que conseguiram foi um banho de sol

Tal povo tem uma cultura diferente
Uma herança de seu tempo como colonos
Tiveram uma metrópole cruel e mesquinha

Sua terra é um pedaço confuso, cheio de terremotos
As fronteiras fracamente defendidas fortemente
A grama do vizinho quase nunca é a mais verde

Eles recusam-se a abrir os olhos para suas verdades
Quando deveriam ver tudo para poderem crescer
Pobre deus envergonhado... Pobres meninos cegos...

Is this real?
Is it pretend?
I'll take a stand
Until the end”

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Homo [não] sapiens

             Você nunca saberá o que é perigo enquanto não andar por frágeis pontes entre buracos negros. Não conhecerá a tristeza enquanto não ver sua melhor tarde fundir-se à somente mais uma de suas noites brancas. Noites sem amores, onde a única lágrima que cai é o pranto da neblina que insiste em tornar as coisas ainda mais frias.
                Você nunca saberá o que é amor enquanto não deixar de fazer tudo de sua vida em função de uma centelha de esperança por algo acontecer. Não saberá o que é falta enquanto não puder dizer não a todas as chances, a uma mensagem ou três portas de distancia, pois de nada adianta entregar-se a prazeres vis que duram tanto quanto um orgasmo.
                Você nunca saberá o que é distancia enquanto não ficar preso com a pessoa amada sem ser correspondido. Não saberá o que é autocontrole enquanto deseja o gosto de lábios que tão perto do seu já estiveram, mas que se afastam no breve instante de um abraço fraterno.
                Você nunca saberá o que é insônia enquanto não passar noites em claro pensando somente em quanto tempo demorará a estar novamente perto de alguém. Não saberá o que é decepção até que todo o tempo que você passou a noite passe e você, durante os mágicos instantes que estiveram pertos, viu-se somente como um velho amigo.
                Você nunca saberá a importância de uma carta trazendo más notícias enquanto não ver-se condenado a escrever a um único destinatário e nunca obter uma resposta. Nunca saberá o quão importante são meias verdades enquanto não ouvir, da boca que desejaria ouvir tanta coisa, apenas meias mentiras disfarçadas como meias verdades brincantes.
                Você nunca saberá o que é não ser correspondido enquanto, além de não ser correspondido, ver a outra também não o sendo. E não saberá o que é uma chance enquanto não ver todas as chances escorrendo por entre seus dedos como água correndo num rio.
                Você nunca saberá o que é solidez enquanto não ouvir algo como “somos velhos amigos” ao invés de um não. E nunca entenderá a imutabilidade das coisas enquanto não entender a complexa metamorfose de uma borboleta. Pois talvez uma pedra filosofal fosse mais útil se transformasse amizade em amor, pois ouro pode comprar escravos, mas não compra a lealdade aos senhores.
                A verdade é que talvez você nunca saberá o que é viver enquanto não perder tudo, mas mesmo assim tentar continuar vagando pelo mundo como um espectro procurando algo, algo que nunca terá, pois você de fato nunca viveu no coração de alguém.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Conselhos de uma terça feira

Desista, pequeno sonhador
Nada do que você dizer fará sentido
Deixe quietos seus pequenos dedos
Eles são frágeis e podem quebrar-se

Continue respirando
Mantenha seus pulmões cheios
Leve vermelho a cada célula
Esvazie sua mente em um piscar de olhos

Tire fora o pacote de biscoito
Limpe o café do chão
Feche a porta ao sair

Não é nada doentio, é apenas um jogo
Você nunca saberá o que é real
Já estou farto desse romanticídio

“Leave me be,
And cease to tell me how to feel
to grieve
to shield myself from evil” 

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Egoísmo de uma segunda feira

Preferia nunca saber a verdade
Pois ela dói ácida queimando a pele
Coração ainda insiste em bater
Esse amor, mal nascido
Eternamente condenado ao desamor
Lágrimas chorando por liberdade
Pálpebras, essas não se abrem
Uma prisão dentro de meus olhos
Sua imagem gravada em cada polegada

Preferia nunca ter provado seus lábios
Encarado seus brilhantes olhos verdes
Rido seu riso, respirado ao seu lado
Toda essa louca vontade
Fumaça, um trem que passa
Luzes, vento, calor, demasiado humano
Um soldado de brinquedo gritando
Uma bailarina de porcelana chorando
O pueril amor nunca vivido

Carvalho, lembranças de infância
Frio de um inverno distante
Uma casa na colina, amadeirada
Dois pólos, dez à mesa
A minha frente seus olhos
Uma mensagem no celular
Vá provar outros lábios
Sinta o perigo pulsando nas veias
Apenas engane seu pobre coração

Heaven today is but a way
To a place I once called home
Heart of a child, one final sigh
As another love goes cold”

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ei, passarinho!

Ei, passarinho! Leve este canto de amor para alguém
Que nunca entende o que quero dizer
Mas cuidado passarinho, está frio lá fora
Os gatos estão soltos
E os ratos são poucos

Ei, passarinho! Seja rápido e não erre de endereço
A noite corre solta, e logo o dia há de nascer
Que não recebam tarde demais, passarinho
O tempo é curto
A chama pode apagar

De nada adiantaria, passarinho
Apenas mais um conforto pr`essa alma solitária
Você sabe a verdade passarinho, camufle-a no seu canto
SOL DO RE RE FA
[eu te amo]

terça-feira, 19 de julho de 2011

Fantasmas

                Ele olhou-se no espelho: os primeiros fios brancos começavam a surgir; a pele, antes lisa e brilhante, enrugada e flácida; os olhos não tinham mais aquele brilho de outrora, hoje estavam de um azul aguado. Até o espelho demonstrava sinais do tempo: manchas negras destacavam-se no fundo prateado, a moldura começava a ficar frouxa. A mão tremula apertou o tubo do creme de barbear, espalhou no rosto e começou o ritual que repetia todas as manhãs desde os 15 anos: lado esquerdo, lado direito, queixo, bigode. Um corte, e o vermelho brilha entre o branco. Ele ainda estava vivo.
                Lentamente tira o pijama xadrez, e resolve sentir a liberdade com que viera ao mundo. Anda pela casa. Tudo ali lembrava a velhice. O tapete de azul ficara branco, os alumínios da cozinha estavam manchadas, os copos estavam engordurados, as plantas morreram, a cachorra estava cega, a pilha de jornal era uma constante que só aumentava. Aqueles jornais lhe traziam a dura realidade: seqüestros, morte, violência, poluição, o mundo não era o mesmo onde ele crescera.
                Repentinamente um par de olhos verdes o encara da parede. Aquele era o único pedaço de felicidade de sua vida, uma felicidade que brilhou em sua juventude, entre juras de amor eterno, findadas em três primaveras. Desde então não encontrou outros olhos, não encontrou mais calor. Os olhos verdes foram seu único amor. Não tinha filhos, perdera os pais. Restaram os vizinhos, que às vezes apareciam para o poker à noite, ou com um prato da torta saborosa. E, no armário, guardava a pesada farda azul.
                Abriu a janela, mas a lufada de vento quente e fumacento logo o fez fechá-la. Dirigiu-se a copa, serviu-se de um copo e encantou-se com o delicioso beijo dourado da moça de 18 anos saída daquela garrafa. A vida ensinara-lhe alguns prazeres. Nisso ele não poupara esforços, do drink no Moulin Rouge com a mais bela das moças ali presente até o bungee jump na Nova Zelândia. Tivera uma vida cheia, que, dentre outras coisas, rendeu-lhe o peso das medalhas em sua beca guardada no armário.
                A tosse veio, tinha chegado a hora. Passou por todos os cômodos da casa, como em um cortejo fúnebre era seguido pelos fantasmas de cada um dos salões: a cozinheira negra da cozinha, a moça de vermelho do seu quarto, a alemã do peito pequeno do banheiro, a ruiva da sala de jogos, a polaca do corredor, a professora loira da biblioteca e, o mais cruel de todos, os olhos verdes da sala. Foi até seu quarto e vestiu sua farda, a cada peça o incomodo da vida vazia aumentava mais. Até colocar a platina de quatro estrelas, completando o peso que era demais para seus fracos ombros de velho.
                Pegou um charuto cubano, acendeu-o e dirigiu-se ao banheiro. O Requiem de Mozart era um conforto a mais para seus cansados ouvidos. Encheu a banheira, testou a temperatura e entrou. A água quente confortava um pouco a dolorida tosse, ao mesmo tempo aumentada pela fumaça do charuto. Sua vida agora resumia-se naquela chama vermelha, um olho do demônio na escuridão quente do banheiro, em meio aos acordes de violino e às exaltações do coro.
                Lembrou-se da infância, dos poucos amigos, das noites regadas a álcool e sexo, das vitórias no ar, das promoções (que sempre vinham com um exercito de ombros invejosos). Havia pensado em algo mais doloroso, estava enganado. Era limpo e quente. Contou uma a uma as medalhas que portava no peito, todas as glórias da sua vida estavam ali resumidas. O cortejo fantasmagórico que o acompanhava estava cada vez mais real. A chama do charuto já chegava ao fim. Mais uma tossida, e a mão ficou cheia de muco vermelho.
                Os brilhantes olhos verdes oferecem-lhe um lenço. Estendeu sua fraca mão, tremula ao tentar romper a distancia. Conseguiu tocar aquela pele pálida. Choque. Não existia o calor de suas lembranças juvenis, a maciez aveludada. Ele toca um frio vazio. O contato não he trouxera o momento de felicidade ansiado. Dá a última tragada no cigarro, o peito enche-se de fumaça quente, pesada. Encara as duas esmeraldas a sua frente e fecha os olhos na esperança de voltar a sentir o calor naquela pele pálida. A chama do charuto apaga. A dor acaba.

domingo, 17 de julho de 2011

"Elipses (Meu. Eu.)"

Vi, era sim! Estava lá com seu mesmo sorriso, com a mesma maneira de andar dos ombros e com seus olhos que falavam por si. Dois anos se foram pelas antigas montanhas, mas ainda era. Agora (no ninho), com a mesma fantasia impecável, o azul bebê combinava-se com o barateia para formar sua armadura.
O brilhante acima da cabeça realçava ainda mais o contraste de sua pele, mas combinava muito bem com o branco da camisa de baixo – o mesmo branco que tentara pôr em si mesmo para esconder suas penas negras. Aquelas que eram retiradas com dor, pintadas como for.
Estava feliz, tinha conseguido conquistar seu símbolo – a pequena adaga dourada. Sorria com um ar de vitória, chegou onde não conseguiram. Não conseguiram , mas podiam, queriam, mas não foram. E estava lá, em meu lugar, somente esperando um brilho mostrar-lhe que, um dia, já foi. Se foi.
Mas o riso era mais do que isso, trazia a angústia de lembrar que não mais podia olhar e escutar sua voz.  Não estava ali para estar por cima, olhando de longe e escondido, desejando sempre mais...
Passou rápido como uma flecha, agora era um espírito do passado esquecido. – “O abraço não é seu” -. Era dos patos originais, brancos e perfeitos, os mesmos que vieram daquelas montanhas. Abraçados estavam, brincando as glórias com os outros, e era um pontinho preto, cinza, marrom, mas nunca alvo.

E aqui , só pensando:

“ Vai realizar o sonho que não pude.O sonho que não pude. Não pude. Não.”

ps. Por Luis Fernando Gonçalinho, do Manual de Quase Tudo http://manualdequasetudo.blogspot.com/

terça-feira, 12 de julho de 2011

TIQUE-TAQUE

TIQUE-TAQUE
O tempo vai engatinhando
Não quer passar, vou me arrastando
O remédio começa a fazer efeito
O gesso vai dando seu jeito

TIQUE-TAQUE
O tempo vai engatinhando
Na lama vou me arrastando
Ainda é terça-feira e pé cheio de bolha
A mochila pesada cheia de trolha

TIQUE-TAQUE
Sexta-feira que não chega
O coração desacelerando devagar
A vontade imensa de alcançar
Desejo que não desassossega

TIQUE-TAQUE
Sexta-feira que não chega
Tem sobrevivência, nós e orientação
Para achar um rumo, não no mapa
Afogar a vida numa adega

PS. Rimas e tédio juntos produzem coisas desastrosas...

sábado, 9 de julho de 2011

Chocolate

Não gosto de chocolates brancos, eles são muito meigos, tentam agradar demais.
Já o chocolate ao leite não tem personalidade, é o comunzão.
Por isso prefiro o chocolate amargo, eles são fortes, impõe sua identidade.

“- Ei, Nemo!”

Pois não...

“- Coisas não se comportam como pessoas.”

Que pena, achei que a recíproca também fosse verdadeira.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Ferrugem

Repudio agora o que me tornei,
Aliás, minto, tenho ódio ao que sempre fui.
Não consigo entender esta porra que chamam de vida!
Não consigo entender o porquê de acharem que com vocês foi sempre pior.
Não se dizem os melhores? O poder?
Então aguentem as consequências!
Querem ser eternos...
Não conseguem proteger a chama da imortalidade sequer da mínima garoa!
Repudio esta ferrugem que os corroí,
Aguentem a barra, não é pior que o peso do mundo.
Diferentemente das fênix, saibam que patos não ressurgem das cinzas.
Patos apenas voam, alto, em busca da sua liberdade...
Parem de grasnar, abram suas asas e voem para seus ideais!
Esqueçam os outros, lembrem-se de si.
Cuidado, pequeno Narciso, seu reflexo pode quebrar o espelho...

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Batatas

            Certa feita havia onze tribos rivais, que competiam por um lugar ao sol. Três seriam as eleitas. Não existiam meios para que todas sobrevivessem, era matar ou morrer. Mas não seria uma guerra armada, talvez com exceção de uma tribo blindada e uma uniformizada.
            Dois longos meses duraram o conflito: trabalho árduo, queremismo, desejo ardente por derrotar os inimigos um por um e, numa tarde ensolarada, estender ao sol sua bandeira. A guerra era cansativa. Havia intrigas internas, externas, prejuízos, dificuldades.
            Após o preparo, o teatro de operações estava armado. Claro, uma ou outra pequena batalha rompeu-se no calor dos preparativos, resolvidas rapidamente. O curioso era que o povo invasor seria o aliado. E a estratégia não era atacar o inimigo, senão agradar ao invasor.
            Cada tribo foi duramente invadida: eram questionadas, obrigadas a expor sua cultura, criticadas, elogiadas, e, conforme o objetivo inicial, foram eleitas. Cumpriu-se o objetivo. “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas." [e a toda a humanidade as palmas por não entenderem um objetivo divergente da vitoria]

domingo, 3 de julho de 2011

Até Breve!

                De repente os juramentos foram por terra... E nada mais tinha valor a não ser a vontade de revê-la. Quanto tempo seria necessário ficar ao seu lado? Creio que se eu passasse o resto da eternidade com você ainda não seria o suficiente. Mas uma coisa eu sei: as duas horas ao seu lado foram as melhores que vivi nos últimos anos!
                Ahh... Como foi bom novamente rir seu riso; poder ficar parado, e, em êxtase silencioso, apenas admirar seu sorriso; ter aqueles momentos de extrema falta de graça ao não saber o que falar; encontrar uma velha amiga e ter uma conversa como se fosse novamente um pré-adolescente nervoso e apaixonado [talvez não pré-adolescente, mas o resto de fato sempre estive].
                Como você mudou: está mais madura, seus cabelos cresceram, a faculdade te fez extremamente bem. E eu, ah, eu estou aqui perdido nesse mundinho fechado. Cada vez pior, mais velho, fechado, um arquivo-morto. Talvez eu seja um tolo ao supor que você um dia poderia querer algo de novo comigo, aliás, nem sei como você aceitou da primeira vez.
                Mas as coisas boas da vida são tão rápidas quanto um piscar de olhos, e, mais cedo do que eu esperava você se foi. Não sei quando te verei de novo, não sei sequer se a verei de novo... Não sei ainda por que não tive a coragem de olhar para trás para ver você pela última vez naquele dia, talvez eu estivesse com medo daquilo se tornar de fato uma despedida.
Apenas fiquei ali, feito criança esperando o papai Noel, com o coração acelerado e a mão suando, gelada.  E torcendo por aquele “Até breve!” ser a coisa mais verdadeira que já ouvi na vida. 

domingo, 26 de junho de 2011

Patinho Feio

                O sol brilhava no firmamento, as montanhas seguiam mansas entre o céu de anil. Mas tudo mudou com a chegada daquele patinho. Era um patinho bonito, jovem. Mas era um patinho diferente: enquanto todos eram alvos ele era negro.
                Logo o patinho percebeu sua diferença. E como aquele patinho sofreu: arrancou, uma a uma, todas as suas penas e, maravilhado, viu as nascerem claras. Ele misturou-se aos outros, uniu-se a eles e quase esqueceu que já fora estranho.
                As coisas iam bem, o patinho crescia feliz entre seus irmãos. Mas o efeito da mordida na maça já o tinha expulsado do paraíso, e não havia volta. Vendo suas penas nascerem escuras o patinho desesperou-se. Quanta agonia!
                Certo dia, em desespero, viu máculas naquela alvidez toda. E, feliz, finalmente encontrou outros como ele. Todos os patinhos negros uniram-se, juntos eram mais fortes.
                Os patinhos começaram a explorar os cantos mais distantes da lagoa, achavam força em suas diferenças. Não fosse a rebelião dos alvos a vida deles nunca mudaria. Mas os brancos uniram-se contra os negros.
                Paulatinamente os patinhos escuros foram camuflando-se novamente, escondidos sob camadas da mais pura tinta cor de neve. Até funcionaria, mas a chuva veio e revelou as manchas naquelas plumagens belamente pintadas.
                Não mais jovem, não mais belo, aquele primeiro patinho, diferente, agora anseia ser como seus irmãos selvagens: negros, cinzas, marrons, nunca alvos. Seu maior desejo é migrar, voar para aqueles campos do paraíso, onde as nascentes jorram hidromel, o sol brilha e a grama é sempre verde. Pobre patinho feio!  

PS. Ao Eddie, pelos patinhos.

sábado, 25 de junho de 2011

Cebolas, sol e auto ajuda

                  Certa feita disseram que o mundo é uma cebola: pequeno, redondo e faz chorar. Isso foi há muito tempo, e foi dito por alguém que talvez eu não respeite totalmente. Mas, independente de respeito, eu discordo desse alguém. Prefiro acreditar na vida como uma caixinha de surpresas. Há tanta beleza no mundo!
                É estranho como perdemos tanto tempo nos lamentando, e reclamando. Temos que aceitar: o mundo não vai ficar exatamente do jeito que nós queremos. Cabe a nós torná-lo da melhor forma possível. As expectativas são muitas, e diversas. Não dá para atender a todas! E, se é para eleger, que seja eleito aquilo que nos faz bem.
                Tudo é uma questão de escolha: você levanta e pode escolher ter um ótimo dia, ou pode acordar já reclamando de tudo e jogando o despertador na parede. Desnecessário dizer o que fará melhor né? Creio que vocês, leitores [se é que eu os tenho], são capazes de decidir por si mesmos.
                Aliás, não reparem alguns textos de auto ajuda que tem surgido. De certa forma eu escrevo conforme o que estou vivendo. A inspiração [ou seria a melancolia?] voltará em breve, mas até lá compartilharei minhas reflexões com todos, ao invés do mundo de sombras e memórias que sempre posto aqui.
                O sol está brilhando lá fora, estou ouvindo música alta, o feriado está acabando. Neste momento há 6 bilhões de outros lá fora, mas pouca coisa importa. Alguns deles estão perdidos no escuro, esvanecendo, muitos estão gritando nomes daqueles que nunca voltarão. Até eu estou gritando o seu nome, que provavelmente não voltará. Mas isso não está me afetando tanto mais!
                Pessoa já disse que o poeta finge tão bem que finge a dor que deveras sente, vamos inverter isso, que tal fingir ser alegria a alegria que deveras sentimos? Ok, vou parar por aqui, acho que não fico muito bom escrevendo auto ajuda. Talvez isso até agrade o Gabriel, ele que é fã de livros desse estilo.

PS. Eu continuarei tratando as pessoas pelo nome, mesmo que talvez você não as conheça. Não gosto de impessoalidade e já basta a multidão que me camufla diuturnamente!
PPS. Prometo que em breve o blog voltará a ser como antes, talvez menos deprimente, eu espero. 

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Curioso

                Hoje oficialmente começa meu ultimo inverno neste lugar. É estranho ver como as coisas estão encaminhando-se para o fim. O frio está vindo, e com ele tantas lembranças, tantas lágrimas, tanto calor [aquele calor humano na verdade nunca vem].
                Por muito tempo silenciei estas páginas, “não foi um período fácil. Não, ele foi repleto de dúvidas, questionamentos, como por exemplo: O que vou ser quando crescer?” (digo com orgulho que poucos entenderão essas aspas). Aconteceu do inferno ao céu durante os últimos 16 dias.
                É curioso... hoje eu resolvi escrever um texto, e, estando feliz, saiu apenas uma página de um diário. Mais curioso é como quanto mais escrevo menos vivo... talvez o Eddie realmente esteja certo. 

sábado, 4 de junho de 2011

TUM-TUM

Apenas uma vez na vida
Por tudo que eu preciso
Não me deixe sozinho no escuro
Leve-me para fora deste vazio

Meu bondoso coração
Ainda insiste em bater
Acolha-o junto ao seu
De-lhe sangue pelo qual bater

Meus olhos já não querem ver
E ouvidos negando-se a escutar
A promessa que nunca foi
Somente um bondoso coração batendo

TUM-TUM TUM-TUM
Ritmado, igualmente espaçado
TUM-TUM TUM-TUM
Ao morrer, vai vivendo

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Fragmentos

Hoje não dá mais
Apenas feche os olhos
Respire fundo e preencha-se
Não há para onde ir
Hoje você sobreviveu
Até quando conseguirá?

                Quem você acha que é, Poeta?
                Você, que cospe sua dor na minha cara
                Mastiga ódio para engolir amor
                Cale a boca e quebre sua pena
                Seja gente, não tente ser Deus

Estas linhas não têm um tema
Já introduziram até a diarréia na poesia
De nada adianta insistir no novo
Quero agora cantar à dor!
Essa gentil senhora que me alimenta.

                Já explicaram a dor tentando definir amor
                Mas hoje, hoje não dá mais...

Findou-se
O silencio!
Dor,
Agora
Somente você
Energiza-me!

P.S. Esses são apenas fragmentos, tentativas do belo que reduziram-se ao horror da existência imprecisa...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Tempestade

                Poderia até ter sido uma manhã normal, não fossem o céu cinzento e o frio a incomodarem. Eram como um demônio amedrontando todos, o minuto de silencio antes da salva de tiros no muro de fuzilamento.
                Algumas horas antes ele havia acordado, dado um beijo no filho e rapidamente engolido o pão-com-manteiga-café-com-leite. Animado, rumou ao último dia de labuta, ansioso pela iminente cervejinha com petiscos que viria a noite.
                Chegou à obra, olhou ao redor, admirando mais uma vez aquela sexagenária instituição. O coração inflou-se de um orgulho particular por contribuir na formação daqueles jovens. Inflou-se tão ou mais que os corações levianos que por ali já haviam e ainda batiam.
                As coisas corriam bem: mestres tentavam ensinar quem insistia em não aprender; garotos, alinhados e perfilados no azul, preparavam-se para o brilhante futuro; a corneta tocava para reunir todos para o almoço; formigas continuavam a estocar comida para o inverno próximo...
                Mas o destino tornara aquela sexta mais sombria que as sextas treze. A gravidade resolveu vingar-se por aqueles que morreram por afirmar sua existência. E cuspiu a sua fúria no peito do nela confiante.
                A corneta novamente os reuniu para a educação física, e logo após o tão esperado final de semana. O carro preto e as fitas isolantes passaram despercebidos.  Sequer perceberam que uma vida havia se esvaído para dar lhes um lugar melhor, pois tanto reclamavam do que já tinham.
                Caiu a noite, e nela a luz do bar foi trocada pela luz das velas, o som do pagode pelo do choro. O único líquido ali presente amargava mais que a cervejinha: lágrimas, caindo feito gotas de tempestade da face que nunca mais receberia aquele beijo, áspero, antes de ir para a escola.

terça-feira, 24 de maio de 2011

[amor] Platônico

                “Quisera ser um ás, para voar bem alto.” Tão alto quanto o sol. Em um lugar onde as mágoas seriam tão somente formiguinhas acenando de uma bola azul distante. A brisa, refrescantemente perfumada, sempre tocaria meu rosto, trazendo ar puro e fresco.
                Não haveria dor. As doenças não passariam de ecos cósmicos distantes. Todos os homens se conheceriam. Crianças e cachorros andariam a brincar pelas ruas. Ruas essas cobertas de pedras branco arredondadas, sempre brilhando a luz da lua cheia.
                Os rios seriam transparentes, repletos de peixes coloridos. Suas águas, convite a um mergulho irresistivelmente atrativo. O leiteiro passaria toda manha, deixando o leite fresco e sadio da fazenda. E sempre seria recebido com sorrisos e muito obrigados.
                Não haveria dinheiro. Não, não esse muro de Berlim divisor dos [quase nunca] maus dos [nunca] bons. Regras seriam desnecessárias. Todos seriam plenamente capazes de seguir os seus direitos sem invadir o quintal do vizinho.
                A grama seria sempre verde. O céu sempre azul. Em qualquer época do ano flores perfumariam o campo. As pessoas não machucariam umas as outras. Talvez essa fosse a única exceção à regra de não haver regras.
                Carros, transito, grandes cidades. Que pesadelo! Dignos dos assombrosos filmes de terror. Cruzes, prédios sagrados, livros antigos sem autor definido. Socorro! Estaria-se no país da desalienação.
                Todos seriam livres. A felicidade seria tão abundante quanto o ar que se respira. E eu seria um ás, e voaria bem alto. [mas trocaria tudo, papel, caneta, mundo, pelo seu amor]

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Evanescente

                Ligam os motores e removem as travas das rodas. Ganhando velocidade ao avançarem pela pista, estão decolando. Aos poucos afastam-os da terra. Em um instante estão sós, no firmamento azul. Ao redor somente gelo branco e sol vermelho.
                E então ligam o piloto automático. Estão livres para dominarem. Na verdade não, eles sempre dominam. Daí vem o filme: os primeiros passos. Mas a imagem vem fria, não consegue passar a desafiosa sensação de manter-se de pé.
                A exibição continua: o tombo de bicicleta; aquele beijo, roubado, às escondidas; a noite memorável, regada a álcool e fluidos. Tudo. O vôo é turbulento, varia de acordo com cada cena. São momentos de potencia máxima mesclados com parafusos angustiantes.
                Duração variada: às vezes rápido, às vezes horas continuas. Geralmente noturnos, mas nem sempre. Não é necessária uma pista especifica, pode ser confortável ou não. De preferência nos momentos de descanso.
                Tudo é automático. Escrito. Somente uma coisa não está prevista: a capacidade característica desses pilotos. Eles invadem sua vida, e não deixam quase nada em troca. Somente a sensação do vôo: quente, acolhedora, evanescente... 

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Mácula

Está na hora, dispa-se
Escondido, nada hoje ficará
Não doa, ainda que grite
Um suspiro a mais, apenas dê

É tarde, feche a porta, já
O meu toque, entregue-se para
O que queria não era isto
Provar do amor na dor?

Quente, em fenda úmida, conforte-o
No romper, molhar-se, sinta-o
Pele sobre pele, arranhe com força
Uníssonas, ofegante, respiração

Chegue e grite, ao êxtase
Deite soar, deixe suor
Viva, ainda que esteja, agora
Somente, não morra, desta vez

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Apocaliptico

                Chamem os juristas! Já se provou a tempos que este “bate e espanca” não leva a nada. O sistema que retarda os retardados ou os retardados que retardam o sistema? Corra enquanto há tempo, voe para longe.
                Longe das montanhas, distante da convivência melíflua desta corja. Dizem que são a nata da juventude brasileira, dá pena do resto dos jovens... Sorte que os médicos, engenheiros, advogados, professores, estão longe.
                Não adianta tentar uma harmonia. O remédio vem nas mãos daquela velha senhora vendada. Expiação de erros, frívola. Dor da falta de liberdade, da perda monetária. Passa. Dor psicológica não.
                A sétima trombeta está tocando, não há mais tempo para vocês. Ajeitem o uniforme, prendam-se à aeronave, decolem logo. Rumo ao espaço! Percam-se no buraco negro mais próximo!

domingo, 8 de maio de 2011

Pensamentos

                E se eu afirmasse que te odeio? Será que teria convicção suficiente para tal [e para fazê-la acreditar]? Você sofreria com isso? Tudo que vivemos juntos ainda tem algum valor para você? E se eu morresse hoje, isso mudaria algo em sua vida?
                As dúvidas contidas em interrogações me assombram mais que mil fantasmas. É estranho escrever para você, sabendo que isso não mudará nada. Sinto-me querendo não passar frio estando de camiseta no inverno russo, ou talvez buscando ar fresco em um mergulho na Fossa das Marianas.
                Mais estranho ainda é não preocupar-me com palavras, com estética. Apenas escrever. Friamente, sem beleza. Arranhar o papel com a mesma força que gostaria de estar arranhando  meu coração [que, calejado, nem mais sentiria]. Não preocupar-me com o que vão pensar disso, se vão gostar, se vão odiar.
                No momento estou escrevendo somente para você, mas como sei que não vai ler, acaba sendo um desabafo para mim. Esta é minha carta de amor para ninguém. Sem dor desta vez, somente dúvidas. Talvez um pouco de angústia, nada é perfeito [você é a exceção].
                O sol lá fora é como o amor que sinto, brilha no alto, mas não consegue aquecer nada. Aqui definitivamente não é um lugar bom para os apaixonados, não há lugares para se tirar aquela foto de família de comercial de margarina. Ahh... aquela margarina que eu envenenei e comi, apenas querendo que você tivesse morrido [dentro de mim]...

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Apito

                 Acorda! Desta vez é sério! Já estão gritando e apitando lá embaixo, tem até bombas explodindo. Eles vieram pra fazer a derrama de nossos erros, e hoje não há herói nem delator. Todos são culpados até que se prove o contrário. O brilho dos diamantes já se ofuscou há tempos e o ouro esgotou-se destas rochas.
                Os pais são jovens, os filhos mais jovens ainda. O conflito de gerações não é tão alto, apenas a prata nos ombros é um pouco mais dourada que a estrela desbotada. O tradicional saber acadêmico contra o colegiado inexperiente. Não há diversão: sem sinuca, sem pizza, sem desenho animado. Somente o labor da tormenta.
                Talvez estivessem apenas atendendo aqueles inocentes pedidos da época que voavam separados: quando todos se uniram na alegria e pediram um momento de tristeza.  Talvez realmente fosse necessário. Nunca se sabe, são jovens demais para entender e velhos demais para insistirem nos mesmos erros.
               Acordaram esfregando pedaços de sonhos... E correram, e pagaram, e suaram, e gritaram... Agora voltem a dormir meus filhos. A água fria tenta acalmar o corpo quente, o conforto da cama, a véspera do final de semana. E o apito recomeça a gritar...      
 Após tudo finalmente a identidade pode descansar, jogada às pressas sobre a escrivaninha. O sono é breve, logo mais a corneta os acordará. Um murmúrio vindo do alto quebra o frio silencio daquela noite:
 - Por mais quantas vezes ainda veremos essas mesmas cenas de novo?
 - São apenas humanos minha amiga... Nunca aprenderão...  – responde a outra estrela, e volta a dormir seu sono iluminado. 

domingo, 24 de abril de 2011

Pesadelo

                Pesadelo! Você acorda gritando na madrugada quente. Olha para o lado, os ponteiros do relógio brilham como olhos de um demônio. Respiração ofegante, pulsação acelerada. De novo o mesmo lugar, a mesma perseguição e o mesmo monstro. Você se levanta, toma um copo de água gelada, e logo, genuflexo, clama pelo bom sono. Em um instante tudo se resolve.
                Pesadelo! Mais uma bomba explode. Mais um decide perder sua vida, levando, junto, vários outros. O barulho ensurdecedor desespera a todos, a chama espalha-se, derrubando tudo a sua frente. Fumaça, poeira e sangue misturam-se sob sol frio. Você se levanta, muda de canal, e clama para que aquilo não se repita. Em um instante tudo se resolve.
                Pesadelo! O vizinho está fazendo um churrasco na sexta-feira santa. Não bastassem todas aquelas mulheres que vivem entrando a saindo da casa, todas as músicas no ritmo do mal. Mas é bom ele ir se acostumando com fogo, o terá por toda a eternidade. Você se levanta,  toma mais um copo d`água no seu jejum, e clama pela alma dele. Em um instante tudo se resolve.
                Pesadelo! O Criador está errando a dose de sua experiência,  tantos estão morrendo de frio, fome, sede. Alguns estão enriquecendo-se com o dízimo. A Terra é redonda, o mundo gira e bruxas não existem. Mas este filho no seu quintal está realmente abandonado. Falta-lhe um Pai presente. Você se levanta, fecha a janela e reclama de mais um pedindo comida à sua porta. Solta o cachorro. Em um instante tudo se resolve. 

sábado, 16 de abril de 2011

ID

               Sou os desejos mais sombrios em seu íntimo.  Aquele que sente inveja dos feitos dos seus melhores amigos, que não atende os telefonemas dos que mais ama, que sai pelos cantos mais sombrios fazendo tudo aquilo que você não faz a luz do dia, aquele que se nega a chorar.
     Sou a noite escura, a água mais gelada, o fogo mais quente, o pensamento doentio, o não querer eterno, a inércia que te faz levar todos os dias, o pesadelo que te faz acordar encharcado e gritando.
                Ah! Se você pudesse me ver. Se pudesse ver o ódio que arde em seus olhos todas as vezes que eu tomo o seu ser, perceber o sabor sanguinolento que deixo em sua boca.  Mas não, crimes perfeitos não deixam suspeitos. Consigo tomar o controle sempre que quero entrar. E sair, e ao sair, você nem perceber. 
                Posso destruir sua vida em dois tempos, ou posso tornar lhe a pessoa mais feliz do mundo. Deveria eu deixar lhe escolher o que quer? Melhor não, crueldade é um dos meus maiores atributos. Sua tristeza me deixa forte.
                Não tenha medo de mim, eu sempre estive com você. Até naqueles momentos que estava tudo bem eu estava lá, somente esperando a hora certa de atacar. Muito prazer, sou sua consciência.               

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Versos Brancos

Escolha o dia mais frio do ano
Tome um copo de raiva e dois de mágoa
Adicione pedaços de desilusão e dor
Beba tudo em um gole rápido para anestesiar

Escolha o bisturi mais afiado que puder
Não se esqueça o isqueiro para cauterizar
Comece por tirar o coração, depois as memórias
Estanque todos os sangramentos com fogo

Espere uma semana para se recuperar
Levante-se da cama, encare o mundo
Não repare a tontura, é normal no início

Ande, corra, sorria. Viva!
Terá uma vida perfeita e alegre
Até mesmo se amar alguém que não corresponda

domingo, 10 de abril de 2011

Hurricane

               Não importa quantas vezes eu respirei ao seu lado, eu estava entorpecido. Todos os abraços, beijos e aquele fogo que ardia de desejo foram em vão. As promessas que fizemos foram reduzidas a pó.  A vida nos deu um breve intervalo de tempo, um segmento de reta com início e fim analiticamente calculados.

                Não importa quantas vezes eu chorei, minhas lágrimas não passavam de sal diluído em água. Você nunca devia ter aberto aquela caixa. Tudo por que passamos saiu dela e somente dela. Precisávamos de um silencio sepulcral, não precisávamos de um herói para gritar verdades aos ventos.  

                Não importa quantas vezes eu morra, eu nunca esquecerei o que você nos fez. Exposição radioativa, pois todos correm do perigo. Ou talvez um zoológico, enjaulados para sermos vistos. Longe de casa, longe de quem realmente amamos. Virados do avesso, aberrações ambulantes seja lá onde estivermos.

                Não importa de quem é a culpa, comungamos dos nossos erros e bebemos nossas atitudes. Diga-me, você queria nos matar? Ou somente fazer nos pagar por nossos pecados? Não consigo entender porque o relógio ainda anda, meu mundo parou naquele sábado a noite.
                

quinta-feira, 7 de abril de 2011

BANG!

BANG! A tranqüilidade da aula foi quebrada pelo fogo. BANG! E dá-se o inferno, no lugar do vermelho incandescente, o vermelho viscoso, resto de vidas derramadas. BANG! Ele não estava de brincadeira. BANG! A mente, ainda em aprendizagem, torna-se o alvo. BANG! Grito, correria. BANG! As lágrimas começam a cair demasiadamente, enquanto ele os derrubava um a um. BANG! A tinta vermelha mancha o branco do caderno, ainda novo, esperando ansioso pelo uso do dedicado dono. BANG! Todos se reúnem para ver a queda dos anjos. BANG! Um encontro inesperado com a morte. BANG! Embriagado pelo sangue de suas vitimas, sua piedade clama por dor. BANG! O peso da culpa o invade, ele encara o medo como um velho amigo. BANG! Bons úteros têm carregado maus filhos. BANG! Não há um herói, a menos que você morra.

PS. Algumas ideias retiradas de The Kinslayer, Nightwish. Um texto não tão bom, mas senti necessidade de postar algo sobre a tragédia no Realengo. "/
 

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sintaxe

                De longe observo o campo de batalha. Como um velho guerreiro não tenho mais tanta capacidade quanto antes. A pena, que golpeava rápida e precisamente o papel, descansa calmamente durante uma pausa e outras das idéias, estes serezinhos demoníacos que preenchem minha mente.
                Minhas metáforas deixaram de ser moiçolas afoitas, são hoje senhoras comportadas, que sentam à mesa para o chá da tarde. As sinestesias, essas eu reduzi a um pouco do claro doce e quente do lugar a que, um dia, almejo chegar.
                Despachei a gramática, esse velha gagá, para o asilo mais próximo. Desprezo todas as leis que tentam encaixotar as palavras. Elas são como gente, devem ser livres. Um neologismo é um bebê, que nasce gritando pela alegria de uma nova vida.
                Sinto um dó tremendo daqueles viciados em métrica, rimas, concordância. Regência então, cruel ditadora que massacra seus súditos. Dissertação, prosa, poesia, conto... será que não vêem que fazem com os textos aquilo que repudiam entre os homens: separam os em raças?
                Quero a liberdade dos anacolutos, uma nova Babel. Quero um idioma sangue, cuja única função seja nutrir todos com comunicação. Afinal para isto serve as palavras, para gritar tudo aquilo que os olhos silenciam. 

sábado, 2 de abril de 2011

Udyat

            Assustado, deparou-se com o fim. A convivência harmônica deu lugar aos socos da verdade. Aqueles, que antes eram irmãos, tornaram-se os mais novos inimigos. E, juntos, pediam sua saída. Exigiam-na com a força que só os jovens têm.

                Seu crime, ir contra o narcisismo daquelas crianças. Justo aquelas que, ao acordarem, vestiam alternadamente sua personalidade verde ou azul. Já, ao dormirem, tentavam sonhar, sem nunca perderem o medo do maldito apito que poderia quebrar seus pesadelos.

                Se fosse questão de confessar teria sido inútil. Os ombros, acostumados somente ao peso áureo-prateado de uma estrela, eram fracos para sustentar a própria culpa. Não podia assumir seus erros. Apenas um menino covarde fugindo da sombra do passado.

              Covardia potencializada em traição. Fez o que pode, não tudo o que queria. Para esconder, o conflito. Crime e castigo. Como normalmente, todos pagaram pelos erros de poucos. Talvez desejassem que o suor lavasse o arrependimento até que ele brilhasse.

              Assim foi feito. Para um, a volta compulsória; o outro ainda dançava, mascarado, o baile. O sol nasceu no horizonte, um o viu pela última vez naquele lugar, já o outro, este ainda tentava alcançá-lo.