segunda-feira, 8 de julho de 2013

SABEDORIA

Não sei nada.
Nunca saberei nada.
Não posso querer saber nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Falhei em tudo.
Como fiz propósito geral, talvez tudo fosse tudo.
A aprendizagem que me deram,
Desci pela escada do prédio velho.
Fui até a academia com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só egos e aparências,

Que sei eu do que saberei, eu que não sei o que sei?
Saber o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tatos que pensam saber a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Não neste momento.

O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sei, e talvez saberei sempre, nada,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;

Mas ao menos fica da amargura do que nunca saberei.
A digitação rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo com lágrimas,
Vil e fútil no gesto com que atiro
A roupa suja que sou, pra o decurso das coisas,
E fico em casa tentando saber.


PS. Obrigado, Álvaro de Campos!
PPS. E obrigado, Pessoa, por criar uma pessoa que eu posso adaptar e me definir.