Atroz, atroz, atroz! Destino
cruel e atroz. Grita em mim outro eu. É que se você quer me matar você deve
girar logo a porra dessa estaca. Está na hora de ser homem e parar com essa
brincadeirinha de enfiá-la tentando causar o menor dano possível. Fume mais um
cigarro, bebe mais uma dose e cante mais uma música.
(Prazeres vis e vãos, bênçãos que
amaldiçoam sua noite)
Beije mais uma boca e passeie sua
mão por mais outro corpo. Não vai funcionar, caralho. Enfie a estaca um pouco
mais fundo, isso, com a pressão correta, não deixe sangrar muito. Já entendi há
muito o seu jogo covarde: você quer causar dor, mas não quer sujar suas mãos me
matando. Qual é a sua afinal? A ideia é me levar à loucura ou à morte? Você me
quer morto ou internado num hospício?
(Idiota! Se você morrer ele vai
perder o brinquedo favorito, é claro que você louco é mais divertido)
Atroz, cruel, frio. Está tudo vazio aqui
dentro, eu posso gritar por horas seguidas e ninguém vai me ouvir. Está na hora
do próximo cigarro, e do próximo drink, o que vai ser dessa vez? Favor parar de
gritar no meu ouvido. Você não manda em mim, ou seria eu que não mando em você?
(Eu preciso mesmo responder quem
manda em quem aqui?)
Qual das memórias você planejou
com mais afinco? A fila, a touca, a música, a parede ou a caixa de som? Esse
jogo burro da porra, essa máscara que embeleza e sufoca. Atroz, vazio. Vazio.
Vazio. Vazio. Vazio...
.
.
.
V
A
Z
I
O
Fumaça, calor, há tanto barulho
aqui fora. Há tanto silêncio aqui dentro. Pare com esse jogo de fazer meus
gritos escorrerem pela minha face enquanto silencia minhas lágrimas.
M
A
T
E
-
M
E
!
T
E
-
M
E
!
(Faça agora, coloca essa estaca para fora e a
use logo)
Enfie um pouco mais à esquerda,
mais fundo e gire mais forte.
(Sinta meu sangue quente...
E
SC
ORR
ENDO)
Pare de me impor o seu pecado e
venha lavar suas mãos imundas com meu sangue contaminado, prometo que meu
veneno não vai te matar.
(Você venceu. Agora deguste deste
cálice)