domingo, 14 de outubro de 2012

A VOCÊ


                Cartas foram feitas para ter um destinatário: ao devedor, as contas; ao réu, a intimação; ao bom velhinho, o pedido; à amante, o bilhete apressado escrito no guardanapo; à amada, as cartas de amor... Parece lógico, tão certo quanto um mais um são quatro.
                Nessa lógica angustiante e perfeita da dor eu lha remeto, Oh, você, eis que já lhe tive entre os braços meus, mas que o tempo tirou-lhe com tamanha facilidade quanto o acaso do destino que nos uniu.
                Era para eu entregar-lhe todos os meus versos, era para você recebê-los com um sorriso nos lábios. Sorrisos radiantes, tal qual os que trocamos naquelas breves horas. Mas não! Eis que aqui estou escrevendo apenas cartas de amor como que ao vento.
                Estaria mentindo, estou mentindo: pois que cartas de amor não causam feridas, senão sorrisos. Cartas de dor sim, pequenas ratazanas, roedoras infernais de músculos que em algum momento latejaram sangue para o corpo quente.
                Apenas preso à tradição secular lhe dirijo esta carta. Apenas preso à modernidade envio-lha por uma página anônima na web. E, seguindo fielmente a tradição a assino, com o pseudônimo que reflete o que sou para você...
                Com amor,
Nemo