Cartas
foram feitas para ter um destinatário: ao devedor, as contas; ao réu, a intimação;
ao bom velhinho, o pedido; à amante, o bilhete apressado escrito no guardanapo;
à amada, as cartas de amor... Parece lógico, tão certo quanto um mais um são
quatro.
Nessa
lógica angustiante e perfeita da dor eu lha remeto, Oh, você, eis que já lhe
tive entre os braços meus, mas que o tempo tirou-lhe com tamanha facilidade
quanto o acaso do destino que nos uniu.
Era
para eu entregar-lhe todos os meus versos, era para você recebê-los com um
sorriso nos lábios. Sorrisos radiantes, tal qual os que trocamos naquelas breves
horas. Mas não! Eis que aqui estou escrevendo apenas cartas de amor como que ao
vento.
Estaria
mentindo, estou mentindo: pois que cartas de amor não causam feridas, senão
sorrisos. Cartas de dor sim, pequenas ratazanas, roedoras infernais de músculos
que em algum momento latejaram sangue para o corpo quente.
Apenas
preso à tradição secular lhe dirijo esta carta. Apenas preso à modernidade
envio-lha por uma página anônima na web. E, seguindo fielmente a tradição a
assino, com o pseudônimo que reflete o que sou para você...
Com amor,
Nemo
Nemo