Tudo
estava tão confuso, as cores já não tinham mais sabor e o vento já não tinha
mais brilho. A vida estava quase monótona e vazia. O mesmo rosto [não aquele,
os novos, o mesmo da vez]. Talvez tudo resumindo-se a um ou outro trago escondido
nas madrugadas quentes. Corria-se quase o risco da velha rotina de sempre
querer entrar. Estranho, tudo tão novo: tantos lugares, tantas cores, tantos
cheiros, tantos rostos. Talvez fosse isso, tudo tantos, tudo tão plural. Novo
demais, muita coisa. Não negue. Dessa vez as tortas estavam mais doces. E o
bolo nem tinha queimado [na verdade nunca se sabe se ele ainda está no forno].
Ao menos tinha a ilusão de ter-se desligado o gás. Ahh... sinestesia nova,
quase uma nova partitura, outra página. Viva! Sangue novo correndo pelas veias!
Bem mais sorrisos. Sem mais barreiras. Mas de repente tudo se interrompe: uma luz,
forte, capaz de realmente mudar tudo... Ou seria apenas mais outra luz no fim
do túnel?