quinta-feira, 27 de setembro de 2012

OUTRA VEZ


                Outra vez o frio chegou mais cedo. E toda energia vital vai esvaindo-se lentamente, junto com a queda no termômetro. Tudo se tornou apenas outro borrão de cores e sons e algumas lembranças que atormentam a mente. As expectativas já se foram e se consumaram: tudo em uma noite.
                E de novo o vento gelado quebra a alegria do sorriso, quando gélidas brisas bagunçam o cabelo em uma descida qualquer. O caminhar ágil do despertar do dia torna-se apenas uma ida a mais uma monotonia. Tiquetaqueando, o relógio desesperado impõe sua sentença. Passa, anda, corre, voa. Já se foi, e nem se viu.
                Agora a alma gelada minimamente se aquece. Eis que surge aquele brilho branco de seu sorriso em uma foto qualquer à frente. Então quando tudo ganha vida, quase como a primavera que se impõe gelo afora, vem a neve de novo. Mais fria, mais densa, eterna. Cobre tudo com aquela alvidez demoníaca, a mesma dos fantasmas por dentro.
                Pois que tudo não passou de fogueira em meio a uma noite fria, e, ao amanhecer, não havia além de carvão e marcas no chão. Nada era para ser além de hormônios aflorados, e algumas horas em algum templo de Eros. Mas foi, foi além, mesmo contra a vontade que agora agoniza.
                Só que tudo não passa de ilusão. E à mente sobra uma ordem apenas, a cada sinopse sussurrada: “esqueça”. Só que tudo ainda é razão. E ao coração sobra uma ordem apenas, a cada batida gritada: “lembre-se”.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

SOLIDÃO


De entranhas e vísceras grita
Rasga o peito rompe nervos
Pegajosa vã, crua e quente
Massa amorfa, semifecal exalante

De poros e pelos escoa
Queima ao sangue frio
Aperta a garganta esmaga a língua
Num escarro sai cortante

Pois que do corpo tudo já se exalou
Resta metástases sê tumores
Vermes comendo a carne podre...

Gás pútrido infesta em volta
Olhos gelados, apenas
digam. “Olá, velha companheira!”