Outra
vez o frio chegou mais cedo. E toda energia vital vai esvaindo-se lentamente,
junto com a queda no termômetro. Tudo se tornou apenas outro borrão de cores e
sons e algumas lembranças que atormentam a mente. As expectativas já se foram e
se consumaram: tudo em uma noite.
E
de novo o vento gelado quebra a alegria do sorriso, quando gélidas brisas
bagunçam o cabelo em uma descida qualquer. O caminhar ágil do despertar do dia
torna-se apenas uma ida a mais uma monotonia. Tiquetaqueando, o relógio desesperado
impõe sua sentença. Passa, anda, corre, voa. Já se foi, e nem se viu.
Agora
a alma gelada minimamente se aquece. Eis que surge aquele brilho branco de seu
sorriso em uma foto qualquer à frente. Então quando tudo ganha vida, quase como
a primavera que se impõe gelo afora, vem a neve de novo. Mais fria, mais densa,
eterna. Cobre tudo com aquela alvidez demoníaca, a mesma dos fantasmas por
dentro.
Pois
que tudo não passou de fogueira em meio a uma noite fria, e, ao amanhecer, não
havia além de carvão e marcas no chão. Nada era para ser além de hormônios aflorados,
e algumas horas em algum templo de Eros. Mas foi, foi além, mesmo contra a vontade
que agora agoniza.
Só
que tudo não passa de ilusão. E à mente sobra uma ordem apenas, a cada sinopse
sussurrada: “esqueça”. Só que tudo ainda é razão. E ao coração sobra uma ordem
apenas, a cada batida gritada: “lembre-se”.