sábado, 4 de agosto de 2012

DE REPENTE


De repente dois olhares cruzam-se
E um sorriso surge no canto dos lábios
A música para naquele momento
Era fraca, a forte luz que agora ofusca

De repente um beijo é selado na madrugada
Ideias bagunçam em algum lugar por dentro
Abraços fortes, desejos vis de uma noite
Estava calmo, o furacão que agora se ergue

De repente correm para o escuro
Não mais dois, agora um só corpo
A unha arranha as costas, os pelos elevam-se
Ritmada e muda, agora descontrolada respiração

De repente, não mais que de repente [já disse o poeta]
Uma pegada forte, indo mais fundo
Era só um desejo, agora passado
Sozinho de novo, após o gozo 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

VOCÊ JÁ COMEU A PUTA DA ESQUINA?

             Chega um momento que você dá de cara com um paradoxo: escrever ou viver. É quando percebe que não sabe viver sem escrever, tampouco sabe escrever enquanto vive. De repente a verdade fica clara... Todas as lágrimas não escorridas na verdade escorreram em todas as palavras que você leu aqui. Talvez seja a hora de começar a transformar palavras em água com sal. Ou seria melhor morrer de novo?
            Na verdade você sabe que não doeria tanto. Digo mais, nem doeria. É só mais um exemplo desse eterno não-querer-quero-mais. Comece a andar, desça as escadas, acenda um cigarro, corte o pulso. Ops, o politicamente correto me proíbe de te mandar cortar os pulsos. E agora, como ficaremos os depressivos?
            “Que se foda o politicamente correto... A vida é minha”. Estranho. A vida é de tantas pessoas. Ela nunca é só sua, ou pelo menos nunca se vive ela sozinho. A sua vida também é do carinha que plantou o trigo que virou seu pão, é da empresa de internet que te permite ler isso, é até da puta que foi comida e depois paga com a nota de dez que você pagou seu pão [isso se não foi você que comeu a puta da esquina].
            “Não diga isso, que maus modos”. E daí? As vezes a verdade dói né? Ouvir violinos, coros e chorar querendo cortar o pulso parece bem fácil. Na verdade acho que todos às vezes têm certa vontade de morrer. Morrer é fácil, já disse, só não citarei modos, pois ainda é crime incentivar o suicídio. Alias, tentar suicídio é crime. Ou seja, antes de tudo sua vida é do Estado.
             Há tantas coisas mais difíceis lá fora. Longe desse seu mundo eu-quero-eu-posso-eu-mando. Nem era para ser tudo isso, apenas veio. É perigoso deixar o pensamento fluir sem limites, mas, sinceramente, eu prefiro gritar as [nossas] verdades... Agora desliga a merda desse computador e vá lá fora comer a puta da esquina, ou, se for mulher, vai lá dar para o primeiro otário que ver passar na rua.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

VERSOS PODRES


Hoje eu não quero nenhuma rima
Não há palavras para esse sentimento
Acho que o poeta em mim morreu
[ele ao menos chegou a viver?]

Eu queria escrever uma maldição
Mas não há esperança de encontrar a palavra certa
Perda de tempo, o príncipe já virou sapo
[e não seria só esse o real motivo?]

Ficou um rosto vazio em um espelho embaçado
E um cheiro ocre de esgoto invadindo a mente
O dedo vai à garganta, vá se embora
[não, você sabe que esse não é o caminho]

A língua geme com a palavra surda
A boca grita com o gosto do fel
Acendo mais um cigarro, aperto o corte
[e só por hoje você não sangrará mais]