quinta-feira, 27 de outubro de 2011

CACHECOL

                   Era apenas uma noite de sábado, e aqueles cinco jovens estavam alucinados indo para mais uma festa. O carro corria rápido pelas estradas, a vodca corria rápida pelas veias. Musica alta e estalos dos beijos trocados, o vidro do carro embaçado. Ahh! A encantadora beleza e coragem da juventude! Uma época sem medos, na qual a coragem é o combustível das historias que ficarão para toda a eternidade.
                Chegaram. Foram e aconteceram no salão. Todos lindos, os três rapazes e as duas moças. Queriam dançar com eles, seus cabelos eram imitados, suas roupas estilizadas, seus tênis brilhantes e saltos altos. Sempre era assim, onde quer que fossem. Só que hoje foi diferente. Sim, o mais temeroso deles decidiu-se por ter uma noite cheia e ficar com uma pessoa.
                E de repente a viu. O coração acelerou. Tudo travou ao seu redor. Ficou tímido, nunca sentira isso antes. Tentou caminhar até perto dela, não pode. Então ficou olhando-a: como um imã seus olhos não perdiam o foco dela. Até que uma amiga a apontou e apontou para ele, sorriu, e, tremulo, foi até a amiga. Um breve dialogo, e um sim. Ele então se dirigiu a moça.
                - Qual o seu no... – e um beijo interrompe a pergunta. Um choque percorre todo seu corpo. E então vem a certeza: é ela!
                Corresponde, e, por vários minutos aqueles dois corpos fundem-se em um beijo como se fossem um. Então pararam, e finalmente ela disse seu nome: Laura. Eles então começam a conversar, falam sobre tudo, dialogam sobre nada. Dançaram, andaram de mãos dadas. E ele descobriu seu passado: já fora casada por um ano, abandonara a faculdade para viver aquele breve amor. Mas os ciúmes corroeram a relação e ela teve fim.
                Ela passava por uma fase ruim. Fazia três meses que estava sozinha. Ele a consolou sob as estrelas, a abraçando a aquecendo-a do frio que fazia fora do salão. Mas não tardou e o dia começou a raiar... ela morava em outra cidade, distante da sua. Veio um pequeno vazio, uma falta. A ultima musica da festa tocou e todas as luzes se acenderam. Caminharam até o estacionamento juntos.
                Despedida. Não sabia o porquê, mas sentiu que um pedaço dele estava indo embora com aquela moça. Abraçou a forte e prometeram se rever. Então surge a ideia em sua cabeça, e ele toma o cachecol em seu pescoço. E, sorrindo, diz:
                - Se quiser de volta terá que voltar para buscar.
                - Eu irei – ela promete.
                E, com um sorriso, trocam o último beijo. E o telefone. Ele vai para o carro, aperta o cachecol firme. Seu amigos chegam. Passam a viagem toda comentando sobre as pegações [a loira no banheiro, a ruiva na escada, o negro atrás do bar...]. Seu silencio nem os perturba, de tão empolgados não o percebem. Uma hora de viagem em silencio e é deixado em casa. Lentamente caminha para a cama, sem antes colocar o cachecol sobre a escrivaninha.
                No dia seguinte a empregada o vê, acha estranho e coloca no maleiro de seu armário, dentre as várias roupas esportivas. Ele acorda com o sol se pondo, come algo rápido e vai para o bar. No caminho sente falta de uma coisa, mas não conseguia se lembrar do quê. Lá chegando, todos o esperavam com o chopp geladinho [a Lavínia, além do chopp, o esperava com a cinta liga nova]. Foram para a dark-room, embora o cérebro lhe dava descargas de consciência por levar a primeira mulher que ficava para um local daqueles.
                Lavínia começou a morder suavemente seus lábios, descendo as unhas pelas suas costas fortes. Já a mão dele deslizava rápido pelas costas dela, chegando logo às nádegas e as apertando com força. Ele retira a saia dela, sua lingerie e desce sua língua por aquela fenda úmida e quente. Sente o delicioso gosto e explora cada canto. Lávinia solta alguns gemidos de êxtase. Ele continua, alternando movimentos rápidos e lentos... Até que, ouvindo um pedido, meio gemido, em seus ouvidos, ele coloca seu membro de uma vez no meio daquelas coxas. Foi uma imensa descoberta do prazer!
                Acorda no dia seguinte em seu quarto... alguns hematomas o assustam. Mas acha-os normais. Coloca uma camiseta e todos ficam escondidos. Desce para o café, e não encontra ninguém. Mas isso não o espanta, ele quase nunca encontrava ninguém naquela casa. Alias, as vezes via um casal de estranhos, que sua mente insistia em lhe dizer que eram velhos conhecidos. E sempre aparecia uma mulata forte com o café, e a atender-lhe todas as vontades. Não conseguia entender por que sentia afeto por aquelas pessoas, sempre recém-conhecidas.
                Passam-se os meses, vêem outras Lavinias, Marias, Paulas, festas, arranhões, encontros com o casal de estranhos e a mulata. Até que um dia olha-se no espelho ao fazer a barba: como estava forte, o corpo esculpido, cada músculo ressaltando a perfeição que Deus lhe presenteara. Sabia que aquilo era um presente, pois nunca havia ido a academia. Embora todo dia promete a si mesmo que vai começar a malhar, e até vai na academia, sempre espantando-se por sua tamanha força e habilidade com os aparelhos, como se aquilo fosse a coisa mais natural para ele. A única coisa que estragava sua aparência era aquela cicatriz...
                Só que algo estranho chamou sua atenção: um cachecol, pendurado no canto do espelho. Não sabia de onde aquilo viera, mas a mera presença disparou seu coração. Ele o pegou e sentiu seu perfume. Então finalmente lembrou-se... Olhou para fora e percebeu os primeiros flocos de neve. Olhou para o cachecol e notou um nome: Laura. Silencio. Ficou estupefado. Finalmente todas as lembranças vieram-lhe a mente.
                Desceu para o café e cumprimentou aquele casal de estranhos. Na verdade os abraçou fortemente, eram seus pais. Os três sorriram um para o outro, e a mãe gentilmente acariciou sua cicatriz, e, dirigindo-se ao marido:
                - Eu sempre lhe disse para nunca deixar de acreditar.
                Após o café ele colocou o casaco, pegou o celular e procurou na lista de contatos, lá estava: Laura. Colocou firme o cachecol em volta do pescoço. Abriu a porta e pisou firme na neve recém derretida. Finalmente poderia ir atrás de um grande amor.

sábado, 15 de outubro de 2011

My abyss

Living in a dark abyss
I don’t have way out
I look around me and only see darkness
I see the sun so far
But don’t get to reach it

Your smile hurts me now
Your happy face puts me in the wall
And shows me that I’m not like this
I try to run away being who I’m not
But this hurts me and tears my soul

Don’t run behind me crying
No, don’t want your tears
I wanted your love and you denying
Don’t try to draw me of this abyss
Cause it was you who threw me here

You pull the best of me
Left me seeing my end
But I don’t see my death
The abyss that I’m is worse than dying

Don’t run behind me crying
No, don’t want your tears
I wanted your love and you denying
Don’t try to draw me of this abyss
Cause it was you who threw me here

Don’t run behind me crying
No, don’t want your tears
I wanted your love and you denying
Don’t try to draw me of this abyss
Cause it was you who threw me here

I’ve been happy one day
But you wake up my bad side
The solitude is my most faithful mate
It makes me bad, but you make me more.

PS. Texto de 2007, retirado do fundo do baú (e da época que tinha uma banda xD)
PPS. Não sou bom pra escrever em inglês, mas a gente tenta.


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Anjo

Um rosto de anjo surgiu para mim
Capaz de aquecer todo este frio
Sua presença era real
Constante, viva, confortável

Um rosto de anjo surgiu para mim
Capaz de por em chamas toda minha vida
Um sorriso, feixe gigante de luz
De volta ao passado, sentimentos à tona

 Tão perto para sentir a brisa de sua respiração
Contemplar cada centímetro de seu rosto
Sentir de perto a perfeição

Tão longe quanto o sol e a lua
As mãos, que desejavam um abraço morno,
Apenas jaziam tremendo, debaixo do travesseiro...

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Pedra

                Existe um cubo perfeito, bruto e pesado. Ele é tão velho quanto cada um dos que pensam sob a Terra, e tão único e individual como a mente dos que o possuem. Carregá-lo é difícil, às vezes dói, como uma vã tentativa de segurar o peso do planeta nas mãos; às vezes é leve como pluma flutuando no vento matinal. Depende da sorte de cada um!
                Na verdade todos estão destinados a terem seu próprio cubo de pedra. Como o relevo em um terreno selvagem, os cubos vão perdendo sua forma sólida e fria. Uma chuva, uma paixão, uma decepção, uma alegria, um furacão. Tudo reage com aquela pedra e vai moldando-a. No fim, após vários anos e experiências, o que se tem é algo simétrico, quase vivo de tão perfeitamente esculpido.
                Então aparece a magia, e a mágica desse cubo é perfeita: de pedra ele, aos poucos, cria vida. Átomo por átomo, molécula por molécula vão virando miofibrinas, e essas células.  Então surge uma força animada que as faz bater em sincronia, como uma orquestra regida pelo sopro de vida mais sutil e ao mesmo tempo tão devastador como um tsunami.
                E surgem canais, por dentro deles vai passando um líquido espesso, vermelho vivo e potente. Ar e vida se camuflam por ali, precisos e combinados tão sutilmente que fazem inveja em qualquer engenho criado pelos seres humanos.
                Deu-se a vida àqueles que possuem esse cubo batendo em seus peitos! Mas cuidado, a mágica é suave, qualquer decepção pode fazê-lo tomar sua forma original, de volta a pedra, de volta ao frio. Para sempre condenados a eterna sobrevida dos amantes não amados.