Assustados, deparamo-nos com o fim. Não mais, em
Barbacena, acordaremos com a estridente corneta; cortaremos o rosto com a lâmina
de barbear; ouviremos os pacientes mestres; alegrar-nos-emos com lasanha e
sorvete, ou reclamaremos do mesmo frango de sempre; pegaremos a arma e depararemos
com o sol vespertino na parada diária; enfrentaremos o sono na instrução
militar, ou a inclinação da Jesus me chama na educação física; entraremos em
forma para o pernoite e passaremos noites e madrugadas cepando na sala de aula.
E, sobretudo, pela última vez o brado dos Titãs estremeceu o Pátio da Bandeira
e o nome “ATLAS” ecoou pelas montanhas, cobertas pelo eterno céu de anil.
Três anos passaram-se desde
que entramos pelo portão da guarda, trazendo o idealismo de meninos que cedo
deixaram a segurança do lar para buscarem seus sonhos. Aqui dentro, deste o
início dividimos incertezas e inseguranças. Em todos os momentos, éramos
lembrados que formávamos uma família. E quanta segurança nos dava saber que
realmente estávamos entre irmãos. Formamos e sempre seremos uma família, a
família ATLAS. Juntos enfrentamos desafios, vimos cada um chegar perto de seu
limite e vencemos as mais diversas adversidades: EXECs, acionamentos, corridas
intermináveis, troca de uniformes, provas escolares, esmagar o chão de cada
canto da escola na flexão.
Mas seria injusto se não
lembrasse os bons momentos vividos aqui dentro. Incalculável é a alegria que
cada vitória na Lima Mendes nos proporcionou, com o bandeirão tremulando e os
coros de “ATL é o Poder”. Quanto orgulho sentimos ao passar e superar o que
talvez nem acreditássemos que conseguiríamos. Quantos sorrisos deram mais vida
à querida escola. E é a mesma querida escola que hoje mostrou-se cruel como as
águias, tornando o ninho, outrora tão confortável a nos acolher, capaz de nos
machucar com seus galhos e impelindo-nos a experimentar nossas frágeis asas e
alçar nosso primeiro vôo.
Com todas as nossas diferenças
construímos nossa identidade. E foram os bons e maus momentos que tornaram cada
um de nos homens, forjando em nossos corações e memórias uma amizade que será
carregada pelo resto da vida. Tal certeza nos conforta hoje, no momento de partida.
Alguns de nos juntar-se-ão aos que já nos deixaram pelo caminho e partirão rumo
a vida civil, a maioria continuará buscando o sonho de Ícaro na Academia da
Forca Aérea. Não choremos as perdas, cada um tem sua felicidade, apenas
continuemos voando. Longe, longe de tudo que é demasiadamente humano para
tornar-nos passageiros.
Espero que os últimos
abraços no pátio da Bandeira tenham sido dados com a mesma alegria dos que
trocamos no batismo. Que ao abrirmos esta revista no futuro possamos reviver
tudo que passamos dentro da Escola Preparatória de Cadetes-do-Ar, e que, do
frio papel, brote as mesmas risadas e lágrimas que permearam nossa caminhada
nestes três anos. Carreguemos sempre
dentro do peito a certeza que unidos cumprimos nossa missão, e mantenhamos
acessa a glória de tudo termos passado com êxito. Não partamos com a estupidez
da despedida, senão com a certeza do reencontro. VOEMOS E SONHEMOS! AOS CÉUS, GUERREIROS DE
ATLAS!
PS. Um texto diferente, relutei muito em torná-lo público. É o texto final da minha revista de formatura, que, por desencontros, acabou não saindo até hoje. Faz um ano da formatura, por isso a postagem!
Ex Al. 2009/038 Vieira
PS. Um texto diferente, relutei muito em torná-lo público. É o texto final da minha revista de formatura, que, por desencontros, acabou não saindo até hoje. Faz um ano da formatura, por isso a postagem!