domingo, 26 de junho de 2011

Patinho Feio

                O sol brilhava no firmamento, as montanhas seguiam mansas entre o céu de anil. Mas tudo mudou com a chegada daquele patinho. Era um patinho bonito, jovem. Mas era um patinho diferente: enquanto todos eram alvos ele era negro.
                Logo o patinho percebeu sua diferença. E como aquele patinho sofreu: arrancou, uma a uma, todas as suas penas e, maravilhado, viu as nascerem claras. Ele misturou-se aos outros, uniu-se a eles e quase esqueceu que já fora estranho.
                As coisas iam bem, o patinho crescia feliz entre seus irmãos. Mas o efeito da mordida na maça já o tinha expulsado do paraíso, e não havia volta. Vendo suas penas nascerem escuras o patinho desesperou-se. Quanta agonia!
                Certo dia, em desespero, viu máculas naquela alvidez toda. E, feliz, finalmente encontrou outros como ele. Todos os patinhos negros uniram-se, juntos eram mais fortes.
                Os patinhos começaram a explorar os cantos mais distantes da lagoa, achavam força em suas diferenças. Não fosse a rebelião dos alvos a vida deles nunca mudaria. Mas os brancos uniram-se contra os negros.
                Paulatinamente os patinhos escuros foram camuflando-se novamente, escondidos sob camadas da mais pura tinta cor de neve. Até funcionaria, mas a chuva veio e revelou as manchas naquelas plumagens belamente pintadas.
                Não mais jovem, não mais belo, aquele primeiro patinho, diferente, agora anseia ser como seus irmãos selvagens: negros, cinzas, marrons, nunca alvos. Seu maior desejo é migrar, voar para aqueles campos do paraíso, onde as nascentes jorram hidromel, o sol brilha e a grama é sempre verde. Pobre patinho feio!  

PS. Ao Eddie, pelos patinhos.

sábado, 25 de junho de 2011

Cebolas, sol e auto ajuda

                  Certa feita disseram que o mundo é uma cebola: pequeno, redondo e faz chorar. Isso foi há muito tempo, e foi dito por alguém que talvez eu não respeite totalmente. Mas, independente de respeito, eu discordo desse alguém. Prefiro acreditar na vida como uma caixinha de surpresas. Há tanta beleza no mundo!
                É estranho como perdemos tanto tempo nos lamentando, e reclamando. Temos que aceitar: o mundo não vai ficar exatamente do jeito que nós queremos. Cabe a nós torná-lo da melhor forma possível. As expectativas são muitas, e diversas. Não dá para atender a todas! E, se é para eleger, que seja eleito aquilo que nos faz bem.
                Tudo é uma questão de escolha: você levanta e pode escolher ter um ótimo dia, ou pode acordar já reclamando de tudo e jogando o despertador na parede. Desnecessário dizer o que fará melhor né? Creio que vocês, leitores [se é que eu os tenho], são capazes de decidir por si mesmos.
                Aliás, não reparem alguns textos de auto ajuda que tem surgido. De certa forma eu escrevo conforme o que estou vivendo. A inspiração [ou seria a melancolia?] voltará em breve, mas até lá compartilharei minhas reflexões com todos, ao invés do mundo de sombras e memórias que sempre posto aqui.
                O sol está brilhando lá fora, estou ouvindo música alta, o feriado está acabando. Neste momento há 6 bilhões de outros lá fora, mas pouca coisa importa. Alguns deles estão perdidos no escuro, esvanecendo, muitos estão gritando nomes daqueles que nunca voltarão. Até eu estou gritando o seu nome, que provavelmente não voltará. Mas isso não está me afetando tanto mais!
                Pessoa já disse que o poeta finge tão bem que finge a dor que deveras sente, vamos inverter isso, que tal fingir ser alegria a alegria que deveras sentimos? Ok, vou parar por aqui, acho que não fico muito bom escrevendo auto ajuda. Talvez isso até agrade o Gabriel, ele que é fã de livros desse estilo.

PS. Eu continuarei tratando as pessoas pelo nome, mesmo que talvez você não as conheça. Não gosto de impessoalidade e já basta a multidão que me camufla diuturnamente!
PPS. Prometo que em breve o blog voltará a ser como antes, talvez menos deprimente, eu espero. 

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Curioso

                Hoje oficialmente começa meu ultimo inverno neste lugar. É estranho ver como as coisas estão encaminhando-se para o fim. O frio está vindo, e com ele tantas lembranças, tantas lágrimas, tanto calor [aquele calor humano na verdade nunca vem].
                Por muito tempo silenciei estas páginas, “não foi um período fácil. Não, ele foi repleto de dúvidas, questionamentos, como por exemplo: O que vou ser quando crescer?” (digo com orgulho que poucos entenderão essas aspas). Aconteceu do inferno ao céu durante os últimos 16 dias.
                É curioso... hoje eu resolvi escrever um texto, e, estando feliz, saiu apenas uma página de um diário. Mais curioso é como quanto mais escrevo menos vivo... talvez o Eddie realmente esteja certo. 

sábado, 4 de junho de 2011

TUM-TUM

Apenas uma vez na vida
Por tudo que eu preciso
Não me deixe sozinho no escuro
Leve-me para fora deste vazio

Meu bondoso coração
Ainda insiste em bater
Acolha-o junto ao seu
De-lhe sangue pelo qual bater

Meus olhos já não querem ver
E ouvidos negando-se a escutar
A promessa que nunca foi
Somente um bondoso coração batendo

TUM-TUM TUM-TUM
Ritmado, igualmente espaçado
TUM-TUM TUM-TUM
Ao morrer, vai vivendo