quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Pedra

                Existe um cubo perfeito, bruto e pesado. Ele é tão velho quanto cada um dos que pensam sob a Terra, e tão único e individual como a mente dos que o possuem. Carregá-lo é difícil, às vezes dói, como uma vã tentativa de segurar o peso do planeta nas mãos; às vezes é leve como pluma flutuando no vento matinal. Depende da sorte de cada um!
                Na verdade todos estão destinados a terem seu próprio cubo de pedra. Como o relevo em um terreno selvagem, os cubos vão perdendo sua forma sólida e fria. Uma chuva, uma paixão, uma decepção, uma alegria, um furacão. Tudo reage com aquela pedra e vai moldando-a. No fim, após vários anos e experiências, o que se tem é algo simétrico, quase vivo de tão perfeitamente esculpido.
                Então aparece a magia, e a mágica desse cubo é perfeita: de pedra ele, aos poucos, cria vida. Átomo por átomo, molécula por molécula vão virando miofibrinas, e essas células.  Então surge uma força animada que as faz bater em sincronia, como uma orquestra regida pelo sopro de vida mais sutil e ao mesmo tempo tão devastador como um tsunami.
                E surgem canais, por dentro deles vai passando um líquido espesso, vermelho vivo e potente. Ar e vida se camuflam por ali, precisos e combinados tão sutilmente que fazem inveja em qualquer engenho criado pelos seres humanos.
                Deu-se a vida àqueles que possuem esse cubo batendo em seus peitos! Mas cuidado, a mágica é suave, qualquer decepção pode fazê-lo tomar sua forma original, de volta a pedra, de volta ao frio. Para sempre condenados a eterna sobrevida dos amantes não amados.

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