sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Homo [não] sapiens

             Você nunca saberá o que é perigo enquanto não andar por frágeis pontes entre buracos negros. Não conhecerá a tristeza enquanto não ver sua melhor tarde fundir-se à somente mais uma de suas noites brancas. Noites sem amores, onde a única lágrima que cai é o pranto da neblina que insiste em tornar as coisas ainda mais frias.
                Você nunca saberá o que é amor enquanto não deixar de fazer tudo de sua vida em função de uma centelha de esperança por algo acontecer. Não saberá o que é falta enquanto não puder dizer não a todas as chances, a uma mensagem ou três portas de distancia, pois de nada adianta entregar-se a prazeres vis que duram tanto quanto um orgasmo.
                Você nunca saberá o que é distancia enquanto não ficar preso com a pessoa amada sem ser correspondido. Não saberá o que é autocontrole enquanto deseja o gosto de lábios que tão perto do seu já estiveram, mas que se afastam no breve instante de um abraço fraterno.
                Você nunca saberá o que é insônia enquanto não passar noites em claro pensando somente em quanto tempo demorará a estar novamente perto de alguém. Não saberá o que é decepção até que todo o tempo que você passou a noite passe e você, durante os mágicos instantes que estiveram pertos, viu-se somente como um velho amigo.
                Você nunca saberá a importância de uma carta trazendo más notícias enquanto não ver-se condenado a escrever a um único destinatário e nunca obter uma resposta. Nunca saberá o quão importante são meias verdades enquanto não ouvir, da boca que desejaria ouvir tanta coisa, apenas meias mentiras disfarçadas como meias verdades brincantes.
                Você nunca saberá o que é não ser correspondido enquanto, além de não ser correspondido, ver a outra também não o sendo. E não saberá o que é uma chance enquanto não ver todas as chances escorrendo por entre seus dedos como água correndo num rio.
                Você nunca saberá o que é solidez enquanto não ouvir algo como “somos velhos amigos” ao invés de um não. E nunca entenderá a imutabilidade das coisas enquanto não entender a complexa metamorfose de uma borboleta. Pois talvez uma pedra filosofal fosse mais útil se transformasse amizade em amor, pois ouro pode comprar escravos, mas não compra a lealdade aos senhores.
                A verdade é que talvez você nunca saberá o que é viver enquanto não perder tudo, mas mesmo assim tentar continuar vagando pelo mundo como um espectro procurando algo, algo que nunca terá, pois você de fato nunca viveu no coração de alguém.

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