segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sintaxe

                De longe observo o campo de batalha. Como um velho guerreiro não tenho mais tanta capacidade quanto antes. A pena, que golpeava rápida e precisamente o papel, descansa calmamente durante uma pausa e outras das idéias, estes serezinhos demoníacos que preenchem minha mente.
                Minhas metáforas deixaram de ser moiçolas afoitas, são hoje senhoras comportadas, que sentam à mesa para o chá da tarde. As sinestesias, essas eu reduzi a um pouco do claro doce e quente do lugar a que, um dia, almejo chegar.
                Despachei a gramática, esse velha gagá, para o asilo mais próximo. Desprezo todas as leis que tentam encaixotar as palavras. Elas são como gente, devem ser livres. Um neologismo é um bebê, que nasce gritando pela alegria de uma nova vida.
                Sinto um dó tremendo daqueles viciados em métrica, rimas, concordância. Regência então, cruel ditadora que massacra seus súditos. Dissertação, prosa, poesia, conto... será que não vêem que fazem com os textos aquilo que repudiam entre os homens: separam os em raças?
                Quero a liberdade dos anacolutos, uma nova Babel. Quero um idioma sangue, cuja única função seja nutrir todos com comunicação. Afinal para isto serve as palavras, para gritar tudo aquilo que os olhos silenciam. 

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