domingo, 27 de fevereiro de 2011

Quatro Estrelas

    Era chegada a hora. Depois de anos lutando, o reconhecimento viera. A luz da quarta estrela contrastava com o olhar vazio. O brilho da espada ofuscado pela bainha. Encontrava-se altivo no novo uniforme. O escritório cheirava a couro e tabaco. Perfume francês requintava o ambiente. No salão, era festa, um exército de homens de azul. Caras sérias, sisudas. Bocas encontrando o alento da última noite frígida no whisky.
     Movimento. Beethoven envolve o ambiente. Um gesto rápido rouba a lâmina afiada da bainha. Choque. O vermelho mancha de negro o azul ferrete. E, de repente, frio. No chão, uma rubra poça espessa. O maravilhoso cheiro férreo adocicado envolve o ambiente. E o movimento para. Uma alma liberta-se da prisão daquele corpo. Tão cultuado em vida. Agora frio, reduzido a bruta matéria. Nem pode desfrutar do novo poder.
     Parada, encostada a janela, contempla sua obra. E, paulatinamente, a memória esvanece. Mas a mesma voz rouca de êxtase ainda ecoa em sua mente: “Não resista sargento, ou eu providencio seu desligamento”.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário