sexta-feira, 6 de maio de 2011

Apito

                 Acorda! Desta vez é sério! Já estão gritando e apitando lá embaixo, tem até bombas explodindo. Eles vieram pra fazer a derrama de nossos erros, e hoje não há herói nem delator. Todos são culpados até que se prove o contrário. O brilho dos diamantes já se ofuscou há tempos e o ouro esgotou-se destas rochas.
                Os pais são jovens, os filhos mais jovens ainda. O conflito de gerações não é tão alto, apenas a prata nos ombros é um pouco mais dourada que a estrela desbotada. O tradicional saber acadêmico contra o colegiado inexperiente. Não há diversão: sem sinuca, sem pizza, sem desenho animado. Somente o labor da tormenta.
                Talvez estivessem apenas atendendo aqueles inocentes pedidos da época que voavam separados: quando todos se uniram na alegria e pediram um momento de tristeza.  Talvez realmente fosse necessário. Nunca se sabe, são jovens demais para entender e velhos demais para insistirem nos mesmos erros.
               Acordaram esfregando pedaços de sonhos... E correram, e pagaram, e suaram, e gritaram... Agora voltem a dormir meus filhos. A água fria tenta acalmar o corpo quente, o conforto da cama, a véspera do final de semana. E o apito recomeça a gritar...      
 Após tudo finalmente a identidade pode descansar, jogada às pressas sobre a escrivaninha. O sono é breve, logo mais a corneta os acordará. Um murmúrio vindo do alto quebra o frio silencio daquela noite:
 - Por mais quantas vezes ainda veremos essas mesmas cenas de novo?
 - São apenas humanos minha amiga... Nunca aprenderão...  – responde a outra estrela, e volta a dormir seu sono iluminado. 

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