sábado, 12 de março de 2011

Four Days to the Wolves

Era algo religioso: uma festa que marcava o quarentena de abstinência de carne.  Não mais, porém, foi corrompida. É agora a festa da luxúria, de carne rija em fendas úmidas, de banhar-se no suor do álcool, expor o corpo que construiu seguindo as regras do último periódico, esquecer-se de si, aliás, mostrar-se no lado mais animal: carne movida por instinto.
                Pobre criança. Não conhecia nada disso. Simplesmente saiu em uma sexta. A imagem de um anjo: pele clara, cabelos loiros, olhos azuis. Tão logo a viu, sentiu-se atraído. Um lobo atrás de uma ovelha. Vestiu o mais gentil dos sorrisos, pegou a capa de fala mansa e foi até ela.
                “Mamãe não me deixa falar com estranhos”, tentou fugir. Foi cativada por aquele bom velhinho. Aceitou o convite e entrou no templo de duas torres. Atrás do altar a poltrona. O lobo parou ali, despindo-se da bondade. A criança assustou, mas foi mordida pela curiosidade. “Vem, é como sorvete!”
                Os sinos badalaram, falsa tentativa de reunir os fiéis. Estavam todos muitos ocupados: a banda tocava, Pierrot e Colombina dançavam, serpentinas voavam. Um anjo perdia suas assas, mas a única preocupação era a chuva que caia, poxa, vai estragar a festa. Sorte do lobo, o dízimo havia consertado a goteira.

3 comentários:

  1. vivii, que coisa! inteligente, mo forte - hauhauha
    fiquei com mais raiva dos padres por isso!

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  2. Cara, fiquei sem palavras, só o que posso dizer é "Muito bom!"

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  3. Eu odeio chorar e admitir que o fiz.

    Não há anonimato aqui, então... Não me deixa outra escolha.

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