quinta-feira, 24 de março de 2011

Manifesto

               Eu agora quero gritar para o mundo. Cansei dessa lamúria silenciosa! Eu, que ando às escondidas, fazendo da minha desgraça minha vida. Eu, que nem mais chorar consigo, que acumulo lágrimas numa bolsa tóxica de pranto.
                Do seu baile de máscara já solei todas as valsas, transpirei as músicas e regurgitei o vinho. Aquelas mesmas vozes, mesmos sermões, mesmos guardanapos, de nada mais me adiantam.
                Vou rasgar todos os panos, sinestesiar todos os cheiros, gostos e sons. Erigirei uma estátua multifacetada, e em cada face uma mentira. E jogá-la-ei aos pombos, para que possam defecar suas ânsias.
                Essa calmaria vulcânica prestes a explodir, o certo e o errado vivendo em equilíbrio. Basta! Que venham os piores perfumes, os mais potentes venenos, os mais belos feios rostos, os mais agudos sons. Que venha o caos!
                E, assim, quem sabe exausto, quem sabe em êxtase sanguinolento de dor, todos os palcos serão erguidos e todas as orquestras soarão uníssimas, cada vez mais alto, alTO, ALTO!

Nenhum comentário:

Postar um comentário