quarta-feira, 30 de março de 2011

Tóxico

                Agora o cristal quebrou, e o ar, antes jasmíneo, jaz plúmbeo. O coração, que um dia já teve força para levar vida a todo o corpo, bombeia morfina. O cérebro, anestesiado, deseja a morte, mas, como castigo, ganha a imortalidade.
                Nada mais é como antes. Deste que ela se foi as portas do paraíso fecharam-se. Só resta este deserto, onde as nascentes jorram fel e as nuvens cospem fogo pelo céu púrpura.
                Respirar dói. Ver horroriza. Sentir queima. Ouvir agoniza. Provar, morte. Diluir o veneno não funcionou, pelo contrário, a química combinou dor e grito em um líquido escuro, concentrado de agonia.
                O silencio sussurra um nome em seu ouvido, os músculos tentam desenferrujar, sozinho, ele levanta. Vitória! Não, aquele bico afiado rasga sua carne podre. E ele cai, de volta ao berço. Por toda eternidade esperando...

Nenhum comentário:

Postar um comentário